quarta-feira, 5 de abril de 2017

A casa onde eu nasci




Em 1948, a maioria dos portugueses não tinha acesso regular a cuidados de saúde, muito menos, a cuidados de saúde materno-infantil. Nasci, por isso e tal como todos os meus conterrâneos daquele tempo, em casa de meus pais, numa cama onde muitas vezes dormi em adulto.

No local já existia uma casa (quatro paredes, melhor dizendo), atualmente com mais de cem anos e que  tinha sido construída por um irmão da minha avó para sua morada. Nunca a chegou a acabar, nem, muito menos, a usar por ter falecido, ainda no tempo da monarquia, durante o serviço militar.
Esta "casa", durante a sua já longa existência, já teve várias "vidas":
Foi adega do meu avô até ao seu falecimento em 1955. Foi, depois e durante cerca de vinte e cinco anos, salão amplo que serviu, designadamente, para nele se realizarem as festas familiares e as de mais de uma dúzia de casamentos. Foi, de novo, adega e há-de voltar a ser um salão familiar.

A casa do meu pai foi, por ele, construída no ano de 1946, adossada àquela. Uma casa modesta, para não dizer pobre, cerca de 50 m2, uma casa de fora, dois quartos minúsculos, uma cozinha e uma despensa.
O espaço sobrante, da frente do terreno, passou a ser o pátio onde viviam os porcos, os coelhos e as galinhas e, mais tarde, foi aí construído um anexo que serviu e serve de garagem e arrecadação.


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ADENDA:

No texto supra, publicado inicialmente, neste blog, em 14 de Março de 2012, deixei expressa a minha vontade de recuperar a casa onde nasci.
Trata-se de tarefa exigente, demorada e custosa essa de pretender recuperar uma casa "antiga". Desde logo porque tratando-se de casas construídas por gente pobre, com materiais pobres e feitas para servir num tipo de vida muito diferente do que é o nosso, o que se pode "salvar" é, sempre, menos do que inicialmente se quereria.

Felizmente, foi possível manter o essencial da "personalidade" da casa, agora dotada do mínimo de conforto exigível no nosso tempo.


Antes - A casa em 2012, numa excelente aguarela de Inês Neves:

Depois - A casa em 2017, numa fotografia de Alessandro Puccinelli:

Ainda, outra foto de Alessandro Puccinelli, mostrando a cozinha, realizada com o precioso contributo de Perpedra:





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1 comentário:

  1. Está muito bonita a aguarela da casa dos meus Avôs, que belos momentos que se passaram naquela casa.

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