quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Namorados


Os jovens actuais, sobretudo as raparigas que, então tinham muito menos liberdade, não poderão, em rigor, imaginar como seria namorar, numa aldeia rural, nos anos 40 do século XX.
O caminho da missa, o tempo em que se levava a percorrer, a pé, a distância entre a Ataíja e São Vicente, era a melhor oportunidade para o rapaz dar corpo às trocas de sorrisos e olhares, estabelecer conversa e fazer a proposta de namoro.
Seguia-se um processo, às vezes longo, de formalização da relação: Ela precisava de falar primeiro com as irmãs, naturais aliadas, preparando a comunicação à mãe, o que conduzia a uma conferência entre as mulheres da família, em que se passava em revista o carácter do rapaz, a sua aparência e comportamento, o apego ao trabalho, as posses e estatuto da família, a estima de que gozava, ou não, as relações entre ambas as famílias.
Se aprovado, havia que comunicar ao pai que, então, mesmo que o quisesse, já não tinha grandes hipóteses de se opor à decisão feminina.
A partir daí, a conversa em público ficava autorizada e, algum tempo depois, o namoro podia ir até à porta da jovem, onde, nas tardes de domingo, tinham lugar longas conversas, com o rapaz sempre de pé e ela, por vezes, mostrando as suas habilidades, costurando ou bordando.
Se o pai dela entrava ou saía de casa, ele e o namorado não trocavam mais de três palavras: “Adeus ó fulano”. “Adeus ti’Sicrano”.
A entrada do rapaz em casa da namorada só acontecia com o pedido formal de namoro que, na verdade, era uma declaração da intenção de casar. Havia, aí, lugar a um pequeno sermão, geralmente a cargo da mulher que falava, sobretudo, da honra: O que estava interdito ao pretendente era falsear a confiança que se lhe dava, pôr em causa a honra da rapariga e da família.
De ambas as famílias.
O namoro passava, agora,  a ter lugar dentro de casa, sob a vigilância constante da mãe, da avó, ou de uma irmã ou irmão mais novo.
O contacto físico estava interdito, só podendo ter lugar em bailes – também, sempre, atentamente vigiados – ou às escondidas.

O namoro dos meus pais foi, mais ou menos, assim.

O dia de maior liberdade consentida, há-de ter sido o dia 29 de Junho de 1944 (ou 1945?), nas festas de São Pedro, em Porto de Mós, onde um grupo de jovens ataíjenses de deslocou sem vigilância paternal.
Caminho feito, a pé (uns bons 24 km, ida e volta), os sapatos da minha mãe, especialmente comprados, viram um fanico numa tarde inteira a dançar e tiveram de ir, de seguida, para o sapateiro.

Houve tempo, ainda, para uma fotografia, à la minuta:



Tinham, ela 18, ou 19 anos e ele 22, ou 23.
Casaram-se em 28 de Dezembro de 1946. 
Faz hoje 65 anos.

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

13º ALMOÇO ANUAL DO SALÃO

15 DE JANEIRO DE 2012






Como vem acontecendo, inintruptamente desde o ano 2000, o terceiro domingo de Janeiro será o dia do Almoço Anual do SALÃO CULTURAL ATAÍJENSE.

Mais uma vez, o SALÃO irá estar cheio de naturais, residentes e amigos da Ataíja de Cima e estamos certos de que também você e a sua família e amigos estarão presentes, para participar num alegre convívio que, como de costume, se prolongará pela tarde e a noite.

A presença de cada um de nós será uma oportunidade única para convivermos, para mostrar a todos que os Ataíjenses são unidos, participativos e intervenientes nas questões que interessam ao progresso da nossa terra e um importante contributo para o futuro do nosso SALÃO que é obra de todos e a todos orgulha.



Ementa:

Sopa da Pedra
Canja
Bacalhau à Salão
Carne de porco estufada
Borrego à Antiga
Vinho
Àgua
Sumos
Frutas diversas
Doces variados

Crianças até aos seis anos grátis, dos 6 aos 12 anos € 6,00, adultos € 17,50
Café e Bebidas Espirituosas, são servidos no Bar e não estão incluídos no preço


Para o Jantar teremos, ainda, sopas e grelhados


Para além de outras colaborações que, como sempre, muitas pessoas darão ao nosso almoço, contamos com as senhoras para confeccionar e oferecer os doces.

Inscrições, no SALÃO, até ao dia 8 de Janeiro.


SALÃO CULTURAL ATAÍJENSE

Estrada Lagar dos Frades
Ataíja de Cima

scataijense@hotmail.com

https://www.facebook.com/#!/SalaoCulturalAtaijense

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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Azinhaga do Martins

(Rua do Martins)


Ligando a Rua dos Arneiros ao Rossio da Lagoa, a Azinhaga do Martins era, há menos de cinquenta anos, um estreito caminho lamacento, quase todo ele recoberto de estrumeiras de mato, que apenas permitia a passagem de um carro de vacas e dava acesso, exclusivamente, a terras cultivadas. Não havia na, agora chamada, Rua do Martins, uma única habitação ou qualquer outro tipo de construção.

Era uma zona povoada de grandes e velhas oliveiras (olival do brilhante, olival da burra, olival do guincho), em compasso denso que, por vezes, como era o caso do olival que existia no terreno onde, hoje em dia, são casas de descendentes de José Faxia, quase não permitia que o sol chegasse ao chão.

Quem seria este Martins que deu nome à azinhaga?

O apelido nem sequer existe, ou existiu em tempos recentes, na Ataíja de Cima e, até agora, nas minhas andanças pelo passado ataijense, apenas encontrei um Manuel Martins que, numa escritura de 1845, é referido como proprietário no sítio do Curral do Galego. Teria ele alguma coisa a ver com esta azinhaga? Talvez sim ou, talvez não.

A rua do Martins foi alargada, por iniciativa da população, na segunda metade dos anos de 1970, na sequência das obras na Capela, durante as quais se construiu a actual sacristia. Essas obras na Capela foram necessárias porque, aquando do alcatroamento da Estrada (do Lagar dos Frades) se verificou que a pequena sacristia que, então, se situava do lado direito da Capela-Mor, provocava um estrangulamento do caminho. As obras contaram ao tempo com a oposição de dois ou três residentes (em rigor, declaradamente, três), entre eles José Veríssimo. As posições extremaram-se com a oposição a fazer tudo para impedir as obras, incluindo chamar a GNR que chegou a pôr-se ao caminho mas foi travada, a tempo, pelo Padre Ramiro que receou e bem os desacatos que poderiam resultar da intervenção policial.

Foi nos dias seguintes à inauguração das obras na capela que alguns rapazes decidiram que era bom que a Azinhaga do Martins fosse também alargada e arranjada. Já.

Isso implicou interferir num terreno de José Veríssimo que apresentou queixa na GNR e, lá foram uns quantos parar ao "posto".

De acordo com os métodos ainda vigentes à época por aquelas bandas, alguns foram sovados. Valeu-lhes estar entre eles um filho de Luís da Graça, pelo que acabaram todos soltos.

Com o que se evitou um sarilho dos grandes porque, entretanto, já se tinha juntado muita gente que, em frente da casa do José Veríssimo, exigia a libertação dos detidos.
Incluindo o condutor de uma enorme escavadora, que a tinha ido buscar à pedreira e ameaçava avançar com a máquina e derrubar a casa.

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

ALMOÇO ANUAL DO SALÃO CULTURAL ATAÍJENSE

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O 3.º Domingo de Janeiro é, sempre, dia de Almoço no Salão!


15-01-2012

13.º Almoço Anual do
Salão Cultural Ataíjense


Eu vou!


Venha também.
Teremos a sala preparada, para si, para a sua família e para os seus amigos:


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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ataíja de Cima – Antes da História

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Apesar das difíceis condições de vida que, necessariamente, resultavam da agrura do solo, há por toda a região importantes vestígios de ocupação humana desde, pelo menos, o Neolítico(1).

Manuel Vieira Natividade, natural da vizinha povoação do Casal do Rei, onde nasceu em 20 de Abril de 1860, foi um profundo conhecedor e estudioso da região tendo, além do mais, desenvolvido um importante trabalho de arqueólogo(2), no âmbito do qual escavou dezenas de grutas (3), designadamente no vale da ribeira do Mogo (as chamadas grutas do Carvalhal) onde identificou abundantes vestígios do Neolítico e alguns do Calcolítico(4) e da Idade do Ferro.

Do Neolítico encontrou em Carvalhal, Carrascal, Lagoa do Cão, Carris, Turquel, Fonte Santa e Vale de Ventos, muitos objectos: machados de pedra polida, escopros, goivas e placas de arqueiro, facas, pontas de seta e punhais de sílex, placas de xisto gravadas fragmentos de cerâmica ornamentada e peças de cerâmica utilitária e muitos utensílios de osso: furadores, alisadores, cabos e alfinetes, .

Da Idade do Bronze, encontrou vestígios nas grutas das Redondas e do Carvalhal: pontas de lança, machados de diversos tipos, sovelas, punhais e braceletes.

Do período luso-romano, uma anforeta em Évora e uma estatueta de bronze no Carvalhal e, em muitos lugares, moedas, olaria, cerâmicas, sepulturas e pesos de tear.

Nesses tempos pré-históricos, os homens de então ter-se-ão estabelecido em redor da grande baía que ia desde para lá de Famalicão até Cós, povoando Alfeizerão, Cela, encostas do Bárrio, Famalicão, Valado, Fervença, Maiorga e Cós. E também o interior: Carvalhal, Aljubarrota, Évora, Alcobaça, Vimeiro, Santa Catarina, Turquel, etc., tudo lugares onde foram encontrados vestígios dessa ocupação(5) .

Assim, havendo provas de presença humana por toda a região, desde logo o Carvalhal, distante escassos dois quilómetros e sem obstáculos naturais que impedissem ou, sequer, tornassem penoso o acesso, certo é que as terras da Ataíja também foram frequentadas e percorridas, - quanto mais não seja no pastoreio dos animais já então domesticados, na peugada da caça e na recolha de lenha e frutos silvestres, - pelos homens do Neolítico. Aliás, o próprio M. Vieira Natividade, no mapa da “Provincia archeologica de Alcobaça” que elaborou em 1899, assinala “Athahija” como um dos locais onde encontrou vestígios do neolítico.


Mapa "Provincia archeologica de ALCOBAÇA", desenhado, em 1899, por M. Vieira Natividade, assinalando, para cada local, os tipos de vestígios arqueológicos aí encontrados. 
 
NOTAS: 
(1) Período da pré-história que decorreu entre 5000 a 2500 anos A.C., caracterizado pelo uso de instrumentos de pedra polida.
(2) Para além do muito que M. V. Natividade escreveu, existe numerosa bibliografia técnica sobre a sua obra de arqueólogo. Os leitores que, como eu, forem leigos na matéria, mais facilmente acederão ao inventário das grutas escavadas por Natividade e a informação sobre o espólio encontrado, em Carlos Mendonça da Silva, “Roteiro das Grutas de Alcobaça”, Edição da ADEPA, Alcobaciana 6, Alcobaça 1998, ou em Ana Cristina Araújo e João Zilhão, ARQUEOLOGIA DO PARQUE NATURAL DAS SERRAS DE AIRE E CANDEEIROS, Serviço NacionaI de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, LISBOA, 1991.
(3) O homem do neolítico vivia em pequenos povoados ao ar livre e só ocasionalmente em grutas mas, estas eram, sobretudo, usadas para inumações funerárias e, daí, o encontrarem-se, nessas grutas, grande quantidade de objectos de uso quotidiano que lá eram colocados para acompanhar e proteger o espírito do morto.
(4) Período de transição dos instrumentos de pedra para os de metal (sucessivamente, cobre, bronze e ferro).
(5) Evidentemente, no período do Neolítico não existiam nenhumas destas povoações, pelo que todos estes nomes devem ser lidos, apenas, como referências geográficas aos locais aproximados onde foram localizados os vestígios.
 
 
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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Há gás natural nos Fiéis de Deus?

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O local onde, há vários anos, a empresa de origem canadiana, Mohave Oil & Gas, vem a realizar prospecções na busca de hidrocarbonetos, na concessão designada Aljubarrota, é o mesmo sítio a que chamávamos Fiéis de Deus (fiais de Deus, dizia-se na linguagem corrente), a oeste da Ataíja de Cima, entre os matos dos Murtais, o Cadoiço e a Quinta do Mogo.

Trata-se de uma terra baixa, plana, com boa aptidão agrícola, no vale sedimentar por onde corre a Ribeira do Mogo e na exacta fronteira entre os terrenos calcários do Lusitaniano da beira-serra, e a zona de colinas do Jurássico e do Cretácio (ver Carta 7, in Carlos da Silva, Alberto Alarcão e António Poppe Lopes Cardoso, “A Região a Oeste da Serra dos Candeeiros”, Centro de Estudos de Economia Agrária, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1961).

Uma boa parte destes terrenos foi, ao longo do séc. XIX e até aos inícios do séc. XX, adquirido por famílias ataíjenses, num processo longo que passou, também, pela libertação dos foros que os oneravam.

É o caso, por ex., da venda que, em 05-04-1829 e pelo preço de 21$000, fizeram Bernardo de Sousa e mulher Maria Joaquina, do Cadoiço, a José da Trindade, do Casal do Pereiro, de “uma terra de pão com sua testeira de mato aos Fiéis de Deus, que confronta de Norte com António Carvalho, do Carvalhal, do Sul com Alexandre Rodrigues, de Aljubarrota, Nascente com José de Sousa, do Cadoiço e Poente com José Maria de Sousa, da Ataíja de Cima”. No mesmo dia, e no mesmo cartório do tabelião José Alexandre dos Santos Brilhante, os vendedores celebraram com o comprador uma escritura de constituição de um emprazamento perpétuo, pelo qual ficaram a pagar o foro anual de três alqueires e meio de trigo bom, limpo e capaz de moer, entregues na casa do senhorio.

Este foro veio a ser liberado pela “compra do domínio directo de um foro de três alqueires e meio ou quarenta e nove litros de trigo, imposto sobre uma terra de semeadura aos Fiéis de Deus, de que o comprador é enfiteuta”. O comprador foi Luís Ribeiro, da Ataíja de Cima, sendo vendedores José Trindade Oliveira e esposa D. Maria do Livramento Sousa e Oliveira, de Alcobaça que o possuíam por herança de sua mãe e sogra D. Maria Amália Trindade Oliveira.
O preço foi de 43$000 (escritura celebrada em Alcobaça, em 15-01-1912).

Agora que a importância agrícola daqueles terrenos está fortemente diminuída, ganha corpo a hipótese de ali se conseguir extrair, em condições economicamente interessantes, gás natural.

O que, a acontecer, seria bom mas, mais do que para a região, para o país que muito precisa de reduzir a importação de hidrocarbonetos e a chamada factura energética.

E, nesse dia, o topónimo Fiéis de Deus será esquecido e passará, definitivamente, à história.
 
Aspecto das instalações de prospecção de gás natural em Aljubarrota-3 (foto de 20-11-2011)
 
 
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Capela de Nossa Senhora da Graça - II

Obras - Séc.s XX e XXI



A capela de Nossa Senhora da Graça da Ataíja de Cima teve, durante séculos, um aspecto muito diferente do actual.

Depois das obras que sofreu no final do Séc. XIX, durante as quais a imagem do orago foi objecto de uma restauração da pintura e ficou como hoje a conhecemos, o tempo foi fazendo as normais deteriorações pelo que, quando eu era pequeno, o telhado que então era em telha tradicional, de canudo, exigia reparação urgente. Os pardais de telhado honravam o nome, fazendo centenas de ninhos sob as telhas e, interiormente, o tecto de madeira acusava com evidência as frequentes infiltrações de água.

Lembro-me de um domingo de primavera, há mais de cinquenta anos, dedicado à remoção dos ninhos, trabalho de que se encarregaram alguns rapazes, entre eles o Zé Maçarico que era conhecido pela sua agilidade e leveza.

Nesse dia, perante larga assistência, todo o espaço em volta da capela ficou coberto das palhas dos ninhos destruídos, ovos às centenas e muitas minúsculas crias de pardal, ainda peladas, acabadas de nascer e logo mortas, a bem do telhado da igreja e das searas onde, se os deixassem, não tardariam a fazer estragos que uma pobre comunidade agrícola não podia nem queria aceitar.


Obras profundas que alteraram substancialmente o aspecto exterior, essas só vieram mais tarde, a seguir ao alcatroamento da Estrada do Lagar dos Frades.

A sacristia era, então, do lado direito do corpo da capela e, com vista a resolver o problema do estrangulamento do caminho, foi ela derrubada e a estrada alargada e construída uma nova sacristia na cabeceira da capela-mor, tal como hoje existe.

Aproveitando o desnível do terreno, este anexo foi erguido em dois pisos, destinando-se o segundo a sacristia e o primeiro a usos diversos, inclusive, casa mortuária.

Em data que não recordo, no âmbito da reabilitação de rebocos e colocação de azulejos nas paredes interiores, foram destruídas duas pinturas a fresco que existiam na parede de fundo da capela-mor, ladeando o nicho da padroeira.

Representavam dois evangelistas, se não me engano, São Mateus e São Marcos.

Em data que também não recordo, a capela sofreu obras que, além do mais, elevaram o telhado da capela-mor para um nível ligeiramente superior ao do corpo da igreja.

Finalmente, em 2003, a capela foi objecto de profundas obras de remodelação que, inauguradas em 13 de Dezembro desse ano pelo Bispo de Leiria-Fátima, lhe conferiram o aspecto actual.

Durante estas obras foram alteadas as paredes e picado o reboco na parte que cobria as antigas paredes que, assim, estão agora de pedra à vista.

O Campanário de pedra que contém o sino e sobrepujava o cunhal do lado direito da fachada,  foi deslocado para o vértice do telhado e modificou-se o antigo óculo sobre a porta, onde havia um mostrador de relógio, abrindo-se um novo óculo, agora em forma de cruz grega, iluminado por vitrais.

A proteger a porta de entrada, foi construído um pequeno alpendre.

No interior, construiu-se um novo coro e substituiu-se o nicho onde está a imagem da padroeira, por uma cópia em mármore.

O nicho original da padroeira que, muito provavelmente, é obra da primeira metade do Séc. XVIII, é agora objecto de decoração no Adro.


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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Capela de Nossa Senhora da Graça

da Ataíja de Cima


Construída no Século XVI, a primeira notícia escrita conhecida da ermida de Nossa Senhora da Graça, da Ataíja de Cima, é-nos dada pelo autor anónimo do “Couseiro”, obra que terá sido escrita em meados do Séc.XVII (seguramente, antes de 1657).

Como já referimos num outro post, ao inventariar as capelas da Freguesia de São Vicente de Aljubarrota, o autor do “Couseiro” refere-se à Ermida de Nossa Senhora da Graça, na Ataíja de Cima, dizendo que à respectiva fábrica (quer dizer, sustentação) “estão obrigados os moradores do mesmo logar”, explicando, na parte relativa à Capela de Santa Teresa, nos Casais, que a fábrica das capelas dos lugares era encargo dos respectivos moradores “porque estas ermidas foram feitas para a administração dos Sacramentos”.

Não deixa de ser curiosa esta explicação porquanto, dos sete sacramentos (actos de purificação das almas) da Igreja Católica: o Baptismo, a Confirmação (Crisma), a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos (Extrema-Unção), a Ordem (ordenação sacerdotal, reservado aos sacerdotes) e o Matrimónio, (ver Catecismo da Igreja Católica, in http://www.vatican.va/, parágrafos 1210 e seguintes), apenas três, a Eucaristia, a Penitência e o Matrimónio, são praticados numa capela rural, ou seja, a explicação é redundante, desde logo, também, porque todos os templos católicos são feitos para a administração dos sacramentos.

Quanto às características físicas da ermida, o “Couseiro”apenas  diz que “a imagem da Senhora é de vulto (é uma escultura a três dimensões), pintada, sem nicho, nem retábulo, nem sino” e, se compararmos esta descrição com as que faz, por ex., da ermida de São Sebastião, na Ataíja de Baixo, da qual diz que tinha “alpendre de colunas”, ou da ermida de São João Baptista, nos Olheiros que refere como “muito formosa” (e, continua a sê-lo, estando, aliás, em curso o processo para a sua classificação como monumento nacional), então, devemos concluir que, naquele tempo, (cerca de 1650, relembre-se), nada mais havia de notável na ermida de Nossa Senhora da Graça, da Ataíja de Cima.

Passados mais de cem anos, em 1758, o relatório do cura de São Vicente de Aljubarrota, inserto nas Memórias Paroquiais, dá-nos conta que: “a capella de Nossa Senhora da Graça cuja Imagem parece tam bem antiga e de pedra é do povo daquele lugar que se chama Ataija de Sima esta capella esta em um largo no meyo do lugar…….. alguns rendimentos que tem que servem para a fabrica da dicta Capella e festa da mesma Senhora que la faz em dia da oitava do Natal e nesse dia acode a ella bastante gente dos povos vezinhos, e tem também esta capella em o altar a imagem do Menino Jesus”.

Este texto nada nos diz sobre como seria a capela naquele tempo. Apenas acrescenta, ao que já sabíamos pelo “Couseiro”, que se situa num largo, no meio do lugar, que sobre o altar há, agora, uma imagem do Menino Jesus e que a festa da padroeira se realizava, nesta época, no dia 1 de Janeiro.

O facto de o “Couseiro” se referir a uma ermida e as Memórias Paroquiais falarem de uma capela, pode querer significar, se os vocábulos estão correctamente usados num e noutro caso, algum desenvolvimento urbano ocorrido na Ataíja de Cima entre meados dos Séculos XVI e XVII. É que ermida significa pequena igreja erecta em sítio ermo, desabitado, enquanto capela significa pequena igreja que apenas abre em determinados dias do ano e as Memórias Paroquiais afirmam que esta, agora, se situa no meio da povoação.

Não conhecemos outras fontes escritas que, até ao Séc.XX, se refiram à Capela de Nossa Senhora da Graça, da Ataíja de Cima.

Não sabemos, assim, quando a festa da padroeira terá passado a celebrar-se no dia 2 de Fevereiro. Como não sabemos quando nela terá sido colocada a imagem de Santo António, ou começado a celebrar-se a respectiva festa. Como não sabemos, ainda, quando lhe terá sido colocado o sino, nem as peanhas que ladeiam o nicho da Padroeira nem, mesmo, este nicho que, no entanto, face ao seu desenho, talvez seja da primeira metade do Séc. XVIII (o que, aliás, seria coerente com o desenvolvimento que a povoação terá tido nessa época).

Quanto à época da construção inicial da capela e da colocação nela da imagem da padroeira, parece não haver dúvidas, sendo os textos unânimes em aceitar que terá sido no Séc. XVI. É o caso, por exemplo, de Tesouros Artísticos de Portugal, Almeida, J. A. Ferreira de, (orientação e coordenação), Edições da Selecções do Reader’s Digest, Lisboa, 1976, onde se refere a capela de Nossa Senhora da Graça nos seguintes termos: “Situa-se em Ataíja e guarda uma escultura de pedra quinhentista representando o orago, prejudicada por uma infeliz repintura. Neste lugar existiu um convento de frades, hoje reduzido à fachada setecentista, brasonada”.

Sobre a “infeliz repintura”, dizia-me o meu pai que terá sido feita na viragem do Séc. XIX para o Séc. XX, por Raul da Bernarda.

E, na Ataíja, nunca houve um convento de frades.
Donde, mais uma vez se prova que não é prudente acreditar em tudo o que se ouve ou se lê.


 
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Rua da Penicheira

Uma antiga rua da Ataíja de Cima


Durante muito tempo dei voltas à cabeça pelo nome de uma das ruas mais antigas da Ataíja de Cima. Perguntei e ninguém me respondia. Eu sabia, lembrando-me das histórias que a minha avó me contava, nos serões à lareira da velha casa onde viviamos, que era um nome terminado em eira mas nada mais do que isso.

Finalmente, um dia que puxei ao António Matias por histórias antigas, ele lembrou-se: Rua da Penicheira!

Lembro-me bem desta rua, já então sem uso público e todas as casas que a marginavam do lado norte (nordeste, melhor dizendo) já sem habitantes e usadas como palheiros.

Trata-se, no entanto, de uma das ruas mais antigas da aldeia, da qual só resta um pequeno beco e desenvolvia-se entre e paralelamente às ruas de Trás (agora chamada de Santo António) e à agora chamada Rua de Nossa Senhora da Graça, nas trazeiras das casas que foram do Couto, de Porfírio Coelho e de Sabino Vigário.

Sobre uma das suas portas, informa-me o Arnaldo que conhece bem o sítio, por aí ter sido criado, está inscrita uma data do Séc. XVIII (ainda não tive oportunidade de confirmar a data exacta), o que atesta bem a sua antiguidade.

Há duzentos anos, talvez menos, a Ataíja de Cima era isto. O Lugar que se comprimia nestas três ruas paralelas e numa quarta que se começava a desenhar a sul. Em dezenas de casas pequenas, fortemente encostadas umas às outras, partilhando, muitas vezes, a parede divisória, viviam quase duzentas pessoas, entre a Calçada, onde agora é o supermercado da Lúcia e o fundo da Igreja, onde o largo era marcado pelas casas, mais abastadas, do Veríssimo, do Machado, do Pote Serrano e de Joaquim Heitor.

Já havia a casa alta do Outeiro, uma ou duas casas nas Seixeiras e outras tantas nos Caramelos e nos Arneiros e, talvez, o mesmo nas Hortas. Mas isso, eram arredores.

Já viveria nas Hortas o Horta que deu o nome ao sítio? Ou as hortas já lá se faziam e foi o sítio que apelidou o habitante?

E quem seria a penicheira, cuja memória ainda há uns cinquenta anos perdurava no nome de uma rua que já não existe? Ainda não sei, mas tenho esperança de lá chegar. Até agora, só encontrei Gisela Salvador  uma amiga de Joaquina Rosalia que, em 1944, lhe escreveu de Peniche. Terá uma coisa a ver com a outra? Talvez sim, ou talvez não que, quando vasculhamos na história, tropeçamos, frequentemente, em pistas falsas… e algumas são tão boas que, com o tempo, passam a verdadeiras.

Planta cadastral do Lugar, tendo assinalada, a vermelho, a Rua da Penicheira.


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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Quando se Jogava Futebol na Ataíja de Cima

1999


Na época de 1998/1999, o Grupo Desportivo e Recreativo Ataíjense militava na 1ª Divisão da Associação de Futebol de Leiria e, no dia 2 de Maio de 1999, em casa, no Estádio da Rã, preparava-se para disputar mais um jogo do respectivo campeonato distrital, zona sul.

Já me não lembro de quem foi o adversário, nem do resultado do jogo (ganhámos, acho eu).

Aqui fica a fotografia, que tirei momentos antes do início do jogo, da equipa que alinhou nesse dia:

Em cima, da esquerda para a direita: Horácio (treinador); Vítor Ribeiro; Lino; João Pedro; Saul; Miguel Branco; Ramiro; Francisco Salgueiro (presidente) e Eduardo Catarino.
Em baixo, da esquerda para a direita: Carlos "Xona"; Vítor Lagarto; Luís Vigário; Francisco Daniel; Aníbal Catarino; Nuno Marinho e Sérgio Ventura.



Na versão inicial deste post, publicada em 19-10-2011 e que agora se substitue, solicitámos a colaboração dos leitores para a identificação dos elementos da equipa.
Essa colaboração chegou e agora já temos todos os jogadores identificados.
Obrigado Hélder Matias, obrigado Ana Ribeiro.


Nota: Anteriormente foi publicado neste blog um outro post sobre o GDRA, com foto da respectiva equipa da época de 1995/1996 (VER AQUI).


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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Casa do Monge Lagareiro, II

também denominada ''Lagar dos Frades''




A Casa do Monge Lagareiro, classificada como IIP – Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 67/97, de 31 de Dezembro, publicado no Diário da República, I Série, n.º 301, de 31-12-1997, é um exemplar de arquitectura civil pombalina, localizado na Estrada Municipal n.º 553 (ou Estrada do Lagar dos Frades), em Ataíja de Cima, Alcobaça, junto ao km 98 da Estrada Nacional 1 (IC 2) e a 200 metros a poente deste.

O Olival do Santíssimo (olival dos frades da Ataíja de Cima) e a Quinta onde se incluíam o Lagar dos Frades e a Casa do Monge Lagareiro, formavam em conjunto a exploração agrícola, já que o lagar se justificava para processar as azeitonas do olival e a Casa como armazém e residência do encarregado da gestão do olival e do lagar.

Lamentavelmente, a nosso ver, a classificação da Casa do Monge Lagareiro ignorou esse carácter, deixando de fora quer os vestígios ainda existentes do antigo lagar, quer o muro que rodeia a quinta, os quais me parece terem idêntica importância, histórica, arqueológica e arquitectural.

Edificados em data incerta, na segunda metade do século XVIII, no âmbito da actividade reformadora da ordem de São Bernardo levada a cabo pelo Abade Dom Frei Manuel de Mendonça que – em execução das políticas pombalinas - promoveu a plantação do olival dos frades e a construção do necessário lagar e casa do monge lagareiro, o lagar e a Casa foram erguidos dentro de uma quinta murada, junto à Lagoa Ruiva, da qual o lagar se abastecia de água, muito provavelmente através de uma galeria artificial de que falam testemunhos locais.

A lagoa está actualmente aterrada e ocupada pelo campo de futebol (estádio da rã) e pelo Largo do Cabouqueiro.

A Casa do Monge Lagareiro, agora muito arruinada, é um edifício de planta rectangular e dois pisos, actualmente com cobertura de uma água, pendendo sobre a fachada principal, a nascente. As paredes a norte e a poente são cegas. Dos dois pisos, o térreo destinava-se a serviços e armazenamento do azeite e o segundo a habitação do monge lagareiro que supervisionava o olival, a quinta e o lagar.

A fachada principal, virada a nascente (sudeste, mais rigorosamente) e à serra dos Candeeiros, apresenta no piso nferior duas janelas gradeadas, de moldura simples em pedra calcária da região, encimadas, no piso superior, por janelas com moldura de brincos e frontão de laços. Ao centro, um falso janelão cego, de moldura recortada, é encimado por uma grande e bem trabalhada pedra de armas de Cister, rematado por uma coroa de que actualmente só sobra a parte posterior.

No interior, as janelas do segundo piso surgem como janelas conversadeiras e as paredes divisórias usavam (já não usam, já tudo ruiu) como técnica de construção o chamado taipal à galega, “estrutura com prumos e barrotes de travejamento, tendo pelas 2 faces fasquias, também de madeira, e preenchendo-se o interior com argamassa de argila, cal, cortiça e azeite, obtendo-se assim maior leveza e durabilidade da estrutura e o isolamento térmico, com paredes frescas no Verão e quentes no Inverno” (Paula Noé).

No alçado sul existe uma escada exterior de acesso ao piso superior.

O conjunto da fachada era equilibrado pela existência de dois corpos laterais esconsos, adossados ao corpo principal.

O corpo norte está arruinado há, pelo menos, setenta anos e não tem qualquer ligação funcional com a Casa. Serviu, certamente, instalações do lagar.

O corpo sul, onde se situam os acessos ao edifício e cuja degradação mostra, agora, que foi meramente encostado ao corpo principal da Casa, apresenta ao nível do piso inferior um arco, entretanto parcialmente fechado para nele se abrir uma porta.

As instalações do lagar organizavam-se na fachada posterior, a poente, junto à qual ainda se vêem algumas das “virgens” onde articulavam as varas das prensas.

Pormenor do brazão de Cister, na fachada principal da Casa do Monge Lagareiro, aqui, ainda com a coroa inteira.
A foto, retirada do site do IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arquelógico ( http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/74418/)
é da autoria de técnicos do Ministério da Cultura e datada, segundo informação do IGESPAR, de 1987.
 
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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Salão Cultural Ataíjense

Fotos para a sua história

Fundado por iniciativa popular, em 1985, o Salão Cultural Ataíjense teve na sua génese o desejo dos ataíjenses de possuirem um espaço coberto onde pudesse reunir-se um elevado número de pessoas. Era, especialmente, sentida a falta de um lugar onde se pudessem celebrar festas (à falta de melhor local, a adega do meu pai, então totalmente devoluta, por o proprietário residir em Lisboa, serviu a um elevado – uns quinze, segundo julgo – número de casamentos).

O terreno foi adquirido a António Jorge por Luís da Graça, já com o propósito de ser oferecido à aldeia para a construção do Salão e, com trabalho voluntário e donativos de muita gente, o Salão foi construido.

Ainda com todo o interior do edifício em toscos, lá se fizeram festas de casamento e aí foi realizada, sob o impulso de Américo de Sousa Sabino, a grande exposição “Ataíja de Outros Tempos”.

14-12-1991 - António "Casal" e António Matias (entre eles vê-se Joaquina "Guilhermina", mulher do primeiro), então os homens mais velhos da aldeia, inauguram a exposição “Ataíja de Outros Tempos”.
À esquerda, aplaudindo, o mentor da iniciativa, Américo de Sousa Sabino.


1993 - Aspecto da fachada do Salão



1995 – Uma das várias festas realizadas para angariação de fundos para as obras do Salão. Aqui, um cortejo onde cada rua da aldeia decorou um veículo que transportava os respectivos donativos.



16-01-2000 – Com o primeiro andar ainda em toscos e num rés-do-chão absolutamente apinhado de gente, realizou-se o 1.º Almoço do Salão Cultural Ataíjense. Aí se tomou a decisão de que, de futuro, haveria sempre, no terceiro domingo de cada Janeiro, um Almoço Anual do Salão.



2000/2001 – Com o entusiasmo cimentado pelo êxito do almoço, deu-se início às obras de ampliação do Salão.



08-07-2001 – As obras de ampliação estão concluídas e prontas a ser inauguradas.


08-07-2001 – No renovado edifício, tem lugar o 2.º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense.


A partir daqui, sem interrupções, o terceiro domingo de Janeiro tem sido, sempre, dia de almoço no Salão.

Na minha agenda já está reservado o terceiro domingo de Janeiro, dia 15-01-2012:

13.º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense


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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Casa do Monje Lagareiro

Um Imóvel de Interesse Público na Ataíja de Cima



A classificação como Imóvel de Interesse Público, a que se procedeu pelo Decreto-Lei n.º 67/97, de 31 de Dezembro, publicado no Diário da República, I Série, n.º 301, de 32-12-1997, da chamada Casa do Monge Lagareiro, não teve qualquer repercussão no local.

Ao nível científico, apesar do enorme fascínio que o Mosteiro de Alcobaça e a sua história exercem sobre tantos intelectuais, com os historiadores à cabeça, também não parece que tal classificação tenha despertado grande interesse pelo monumento já que, depois disso, apenas foi publicado o estudo intitulado “Breve Noticia sobre o Antiguo Lagar dos Frades em Ataíja de Cima (Alcobaça)”, de Maria do Céu Simões Tereno(a), publicado na “Cistercium", Revista Monástica, Julio – Septiembre, 2001, n.º 224(b), estudo esse que constitui o “estado da arte”, no que ao conhecimento científico deste monumento diz respeito.

Nele, centrando-se na arquitectura e no estado actual (1999-2000?) do edifício, a autora descreve o que viu e hoje, passada cerca de uma dúzia de anos, se encontra um pouco mais arruinado.

O texto recenseia o essencial da bibliografia relevante e é acompanhado por seis desenhos (c), um dos quais é uma tentativa de reconstituição da planta dos edifícios, feita a partir da descrição de J. Vieira Natividade e dezassete fotografias, cuja leitura é muito prejudicada pela má qualidade da reprodução e ausência de datação.

Uma dessas fotografias, “Figura 23 Antigo Lagar dos Frades. Fotografia do conjunto do lagar, mostrando ainda a Lagoa Ruiva”, é a mesma que já tinha sido publicada por J. Vieira Natividade em ilustração ao seu artigo “As Granjas do Mosteiro de Alcobaça”, in Boletim da Junta da província da Estremadura, – 2ª Série, n.º 5, Lisboa, 1944(d)  (como, aliás, M. C. S. Tereno refere em Nota) e, com a legenda “Lagoa Ruiva e ruínas do LAGAR DOS FRADES (Ataíja)” está reproduzida na estampa XIII (1), inserta entre páginas 52 e 53 do livro “M. Vieira Natividade - Mosteiro e Coutos de Alcobaça - Alguns Capítulos Extraídos dos Manuscritos Inéditos do Autor e Publicados no Centenário do seu Nascimento, MCMLX” (e) .

Esta fotografia(f) é particularmente interessante, mostrando, em primeiro plano, a Lagoa Ruiva onde uma mulher lava roupa, uma criança brinca e um homem, com o seu carro de burro, enche uma barrica de água. Em segundo plano, vê-se a “Quinta”(g) , com o seu muro ainda quase intacto e a entrada, com as suas colunas e, em terceiro plano, as instalações do lagar, já bastante arruinadas e da Casa do Monge Lagareiro, esta com o telhado denunciando obras recentes (h).

Tudo somado, o que sabemos sobre o Lagar dos Frades da Ataíja de Cima e a Casa do Monge Lagareiro é, ainda, muito pouco e pode resumir-se ao que foi escrito por:
- Frei Manuel de Figueiredo, que dá notícia da sua construção;
- J. Vieira Natividade, que descreve o estado em que o encontrou no início do Séc. XX;
- Maria do Céu Simões Tereno, que descreve o estado em que o encontrou em 1999/2000.

No mais, a grande maioria dos diversos textos que se referem à Casa do Monge Lagareiro e ao Lagar dos Frades da Ataíja de Cima, não trás qualquer conhecimento novo.

Mas o tempo, esse grande escultor veio, recentemente, ensinar-nos mais alguma coisa:
A degradação do imóvel permite-nos ver, agora,  que o famoso janelão cego que domina a fachada armoriada da Casa do Monge Lagareiro, servindo de suporte ao imponente Brasão de Cister é, afinal, falso e não, ao contrário do que parecia, uma janela entaipada:



NOTAS:
(a) Arquitecta, professora na Universidade de Évora, Doutora em Conservação do Património Arquitectónico, com uma tese intitulada “Contributo da Perspectiva para a Salvaguarda de Monumentos Históricos”.
(b) A revista "Cistercium" é patrocinada pela Conferencia Regional Española de Monasterios Cistercienses de la Estricta Observancia.
(c) Além de plantas de localização às escalas 1/25000 e 1/4000.
(d) Republicado (sem ilustrações) em “J. Vieira Natividade, Obras Várias, II”, Edição da Comissão Promotora das Cerimónias comemorativas do I Aniversário da Morte do Prof. J. Vieira Natividade, Alcobaça, s/data (o Prof. J. Vieira Natividade nasceu em 22-11-1899 e faleceu em 19-11-1968, esta edição será, portanto, de cerca de 1970).
(e) O livro reúne um conjunto de inéditos de Manuel Vieira Natividade, escritos entre 1878 e 1918, coligidos pelo filho do autor, o Eng.º Agrónomo Prof. Joaquim Vieira Natividade. As fotografias não são datadas e não têm indicação de autor. No entanto, as insertas no referido Boletim, são aí mencionadas como sendo da autoria de J. Vieira Natividade.
(f) Provavelmente tirada nos primeiros anos da década de 1940.
(g) “Quinta”, é o nome porque, na Ataíja de Cima, sempre ouvi designar o terreno murado onde se situa a Casa do Monge Lagareiro.
(h) O espaço era, ainda na segunda metade do Séc. XX, utilizado como palheiro pelo proprietário, José Horta Henriques que foi conhecido por José Bernardo.

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terça-feira, 4 de outubro de 2011

TASQUINHAS 2011

7, 8 e 9 de Outubro de 2011

SALÃO CULTURAL ATAÍJENSE



Programa:

Sexta-feria, dia 07/10/2011, a partir das 23h30


    -Animação com PAULO NORTE + BANDA (APARTIRTUDO) e DJ RUI ALX
    - Petiscos vários (orelha, moelas, pica-pau, chouriço caseiro, morcelas  e farinheira)

Sábado dia 08/10/2011, a partir das 19h00

    -Animação com KARLITOS e DJ RUI ALX
Ementa para o jantar:
    - Misturadas
    - Canja
    - Galo com couves
    - Bacalhau à Lagareiro
    - Grelhados mistos

Domingo dia 09/10/2011, a partir das 12h30
    - À tarde, concertinas com Rafa, Nelson e José Júlio
    -À noite, animação com KARLITOS

Ementa para o almoço e o jantar:
    - Sopa de Pedra
    - Sopa de legumes
    - Ensopado de borrego
    - Papas à antiga com bacalhau
    - Grelhados mistos

NÃO FALTARÁ AGUA PÉ NOVA, ANIMAÇÃO, ALEGRIA E BOA DISPOSIÇÃO.

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

IC9

Progressos

Uma viagem entre Tomar e a Ataíja de Cima, permite apreciar os progressos das obras em vários pontos deste troço.
No que diz respeito à Ataíja de Cima, os avanços mais evidentes residem no desenvolvimento da construção do viaduto que, pela Rua das Seixeiras, fará a ligação aos Casais de Santa Teresa, desenvolvimento esse que as duas fotos seguintes bem ilustram:

Foto de 11-09-2011



Foto de 02-10-2011



A grande importância para o desenvolvimento local que atribuímos à entrada em serviço do IC9, tem sido objecto de alguns textos neste blog, designadamente, os segintes:
http://ataijadecima.blogspot.com/2010/08/da-estrada-do-diamantino-ao-ic9.html
http://ataijadecima.blogspot.com/2011/07/sobre-o-tracado-do-ic-9.html

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Alecrim

(anecril)


O alecrim (Rosmarinus officinalis) ou, como por aqui se diz, o anecril, ocorre em toda a bacia mediterrânica, em solos calcários e é um dos arbustos mais vulgares em toda a serra dos Candeeiros.

É utilizado desde a Antiguidade em aplicações culinárias (assados e grelhados de carnes) e, modernamente, também em sopas e molhos.

É, também, usado em aplicações medicinais e na elaboração de perfumes e, em diversas religiões, como insenso.

Na Ataíja, apenas me recordo de, com ele, a minha avó fazer defumadoiros, queimando-o sobre brasas, tanto quanto me lembro, para combater as humidades.

Fora isso, o alecrim usava-se para queimar nas fogueiras de Santo António.

A fotografia abaixo mostra um reboque de tractor (motocultivador), com uma carrada de alecrim acabada de colher na serra e que se destina a ser queimado na grande fogueira de Santo António que se fazia no Largo do Outeiro antes do seu alcatroamento.


Em baixo, à esquerda, a fumar, vê-se o Mário Rosa Dias, cuja camisa branca indica que era domingo. Entre ele e a carrada está o Quim Velho (VER AQUI) e, à direita, a figura atravessada na porta é, talvez, a dona da casa, Joaquina Simpliciana Coelho que todos conhecemos por Joaquina Catrina.

Sobre a carrada estão os apanhadores do alecrim: um grupo de dez homens e rapazes, dos quais apenas consigo identificar uma pequena parte (o Arnaldo, o Mário, o Alberto).



Será que os leitores podem ajudar-me, identificando todos os personagens e indicando a data da fotografia? (duplo click na foto para ampliar)


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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Retratos de uma família ataíjense

José Ribeiro


A fotografia é um importante meio auxiliar da história, sobretudo quando datada ou quando contém elementos que nos permitem determinar com bastante certeza a data aproximada em que foi feita. Isto, por transmitir um quadro da época o qual, necessariamente, há-de conter importantes informações.

Nas nossas investigações sobre a Ataíja de Cima, temo-nos deparado com a, aliás compreensível (fotografia não era hobby de camponeses), escassez de elementos iconográficos. Daí, a nossa alegria por mão amiga nos ter feito chegar um conjunto de retratos de família, tendo por principal personagem José Ribeiro (1900 – 1973) que foi um dos maiores proprietários rurais da nossa aldeia.


José Ribeiro, com 33 anos de idade, de chapéu de feltro e jaqueta, montado no seu cavalo, frente à porta de sua casa, na qual vai a entrar uma das filhas mais velhas.
O cavalo, a pose e o traje, identificam, inequivocamente, o retratado como um abastado (à escala local) proprietário:



José Ribeiro, em 1940, com quarenta anos de idade, numa fotografia de estúdio:


Uma interessantíssima fotografia de grupo, datada de 21 de Abril de 1949.
Os trajes, do filho António e de outros, mostram, inequivocamente, que foi tirada em um dia de semana. Apesar disso, o Patriarca mostra o seu estatuto social: Bem penteado, camisa branca, casaco e colete, em cujo bolso repousa o relógio de que se vê a corrente de prata.
A professora da aldeia, elemento de uma importante família de Alcobaça, era hóspede da casa.
São as seguintes as pessoas retratadas (da esquerda para a direita):

Francelina Botas (actualmente residente no Mogo, era a criada da professora); Joaquina (filha); Dona Elvira, mãe da professora; Maria Fernanda Ferreira da Bernarda, professora; Maria Emília (filha); Luísa (filha), tendo ao colo a pequena Maria Emília (actualmente residente em França); José Ribeiro; Emília Faustino (esposa) e António (filho). À frente: Maria Amélia (filha) e Fernanda da Bernarda, filha de Silvino Ferreira da Bernarda e ex-directora da SPAL)


Emília Faustino, filha de José Faustino, da Quinta do Mogo, esposa de José Ribeiro, numa fotografia de estúdio, de 1950. Das orelhas pendem as arrecadas de ouro filigranado e, ao pescoço,o longo cordão (cerca de 3 metros) também de ouro:


José Ribeiro e a mulher, com os netos Pedro e Paula Cordeiro, numa fotografia de 1967, tirada no largo em frente à sua casa. Note-se a degradação do pavimento do largo (nesse tempo o alcatrão ainda não tinha chegado à Ataíja de Cima) e a ausência da sacristia da Capela de Nossa Senhora da Graça (nesse tempo a sacristia era, ainda, ao lado direito da Capela, estrangulando a estrada). Atente-se, também, no sempre cuidado traje de José Ribeiro: A calça vincada, os costumados chapéu e colete, onde brilha a corrente do relógio e, por ser domingo, gravata:


Finalmente, uma fotografia de 09-10-1972, (ver AQUI). É, talvez, a última fotografia de José Ribeiro que havia de falecer alguns meses depois.
Trajando os habituais chapéu, casaco e colete, está acompanhado da mulher, de quatro netos e um bisneto:



O estado do edifício em fundo mostra que a actividade da casa agrícola que levou cem anos a construir, estava fortemente reduzida e ia entrar numa nova fase, com o inevitável desmembramento resultante da partilha pelos 6 filhos:

Ao mesmo tempo, toda a actividade económica da Ataíja de Cima entrava num novo ciclo, caracterizado pelo abandono da agricultura e pela emergência das indústrias da faiança e da extracção da pedra vidraço de Ataíja.

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Festival das Sopas 2011

Um grande êxito


O Festival das Sopas da Ataíja de Cima que ontem teve lugar, foi um grande êxito que a todos deixou contentes e de parabéns.

A organização, visivelmente satisfeita, a meio da tarde, com o recinto ainda cheio de gente, já começava a congeminar projectos e melhorias para que o festival de 2012 seja, ainda, melhor que o deste ano.

Os participantes não arredaram pé até muito tarde (eu tive de sair às 18h30 e centenas de pessoas continuavam em alegre convívio) e, todos aqueles com quem falei – e foram muitos – estavam felizes: Com o tempo, aliado indispensável, que nos presenteou com um dia de verão, não muito quente e sem vento, com a qualidade e variedade das sopas e com o ambiente, descontraído, de muita conversa, animação, danças e jogos de cartas.

Mais de quinhentas pessoas tiveram a oportunidade de provar dezasseis sopas diferentes que, para memória futura, aqui ficam listadas:

- Sopa Castanha
- Sopa de Pedra
- Sopa de Inverno
- Sopa de Peixe
- Sopa de Massa e Bacalhau
- Caldo Verde
- Massada de peixe
- Misturadas
- Canja
- Sopa de Chícharos
- Sopa de Legumes
- Sopa de Grão
- Sopa de Abóbora
- Sopa de Polvo
- Sopa de rabo de boi
-Sopa de feijão verde



 A mítica sopa de chícharos que, para os mais velhos, é lembrança dos tempos difíceis em que este rústico legume era a base da alimentação e hoje em dia, em verdadeira catarse, apenas comemos em festas como a de ontem.


Uma panorâmica do recinto cerca das 13h40



Os ataíjenses mais uma vez provaram a si mesmos que, quando se unem e trabalham em conjunto, conseguem fazer coisas que valem a pena.


Um abraço a todos.

Para o ano há mais.

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre a carência de água na região da Ataíja de Cima

Uma intervenção parlamentar de 1960


O Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 145, de 21 de Janeiro de 1960, a págs. 279 a 281, transcreve a intervenção do deputado pelo círculo de Leiria, José Rodrigues da Silva Mendes (Capitão Silva Mendes, turquelense, que também foi proprietário na Ataíja de Cima), no âmbito da discussão na generalidade de uma proposta de lei sobre abastecimento de água das populações rurais:

“O Sr. Silva Mendes: - Sr. presidente: Tem o Governo dedicado a sua atenção ao momentoso problema do abastecimento de água às cidades, vilas e aldeias de Portugal, e a sua obra neste sector, como em muitos outros tem sido formidável e será cada vez maior e mais perfeita até que o abastecimento desse precioso líquido esteja ao alcance de toda a população portuguesa, e em especial dos habitantes das nossas aldeias, onde, em avultado número, se nota uma carência aflitiva.


No distrito de Leiria, e em especial nos concelhos de Alcobaça, Ansião, Pombal e Porto de Mós, há muitas povoações onde nem sequer existem as chamadas “fontes de chafurdo” e toda a população se abastece da água das chuvas, caída em telhados ou eiras e guardada em cisternas, donde é tirada durante todo o ano.


Nas faldas e no alto da serra dos Candeeiros, região que muito bem conheço, há numerosas aldeias onde, durante o verão e quando está bastante tempo sem chover, os habitantes têm de ir buscar a água para eles e para os seus gados, a 5 km e 6 km de distância.


Calculem VV. Exªs., o que é a vida dessa pobre gente tendo de andar 10 km ou 12 km, a maior parte das vezes durante a noite e depois de um dia de trabalho fatigante, para trazer uma bilha de água com que possa matar a sede da família e dos animais domésticos e cozinhar as suas modestas refeições.


Quando, ao fim de tantas canseiras, tropeçam e caiem, devido aos péssimos caminhos que têm de percorrer, e a bilha se parte, perdendo o fruto de tanto trabalho, isto representa uma verdadeira tragédia para as pobres vítimas dos acidentes.


Nas regiões a que me refiro, geralmente cheias de algares, por onde a água se escoa para grandes profundidades, é difícil e muito oneroso captar a água para o abastecimento das populações, mas estas, que são tão boas, trabalhadoras e verdadeiramente portuguesas, pelas suas magníficas qualidades, são indiscutivelmente dignas da protecção do nosso Governo, que confiadamente solicito, tendo a certeza de que o meu apelo será atendido, como é de inteira justiça.


Abençoadas serão as obras que se efectuem para este fim e que contribuirão para a melhoria das condições sanitárias dos habitantes dos pequenos aglomerados habitacionais e para a satisfação de uma das mais prementes das suas necessidades.


Tem o Governo norteado a sua acção atendendo em primeiro lugar os pedidos que são mais justos e que representam a satisfação de necessidades mais prementes. Pois, Sr. presidente, não creio que se possa fazer um pedido mais justo do que aquele que nesta minha intervenção estou formulando a favor das populações das abas da serra dos Candeeiros e dos habitantes de muitas outras aldeias do país onde a água no Verão não chega para beber e muito menos para praticar os mais elementares princípios de higiene.
…”



NOTAS:
As actas parlamentares estão disponíveis na internet, em: http://debates.parlamento.pt/, onde pode ser lida a totalidade desta intervenção.
A água canalizada só chegou à Ataíja de Cima em 1993.

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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os liberais e o Mosteiro de Alcobaça



No ano de 1821, as Cortes Gerais e Constituintes debatiam a reforma dos Forais e do sistema enfitêutico que afogava a agricultura (quer dizer, num país predominantemente rural como era Portugal, a economia). Assistia-se ao estertor do Antigo Regime de que o Mosteiro de Alcobaça era parte integrante e grande beneficiário.

O deputado Borges Carneiro era um activo defensor do fim dos forais e, nas intervenções que nesse ano fez nas Cortes, por muitas vezes se referiu aos frades bernardos como acabado exemplo de opressor dos povos que gemiam sob o peso de uma multiplicidade de imposições tributárias.

Eis alguns excertos das intervenções daquele deputado sobre a matéria:


“Com que direito podia o Sr. D. Afonso Henriques, posto no alto da serra dos Carvalhos, dizer (se é que o disse; pois a maior parte destas coisas que andam escritas pelos cartórios dos frades são patranhas que eles se puseram a inventar nas celas depois de terem a barriga bem cheia a custa do pobre lavrador); mas torno a dizer, com que direito podia o nosso primeiro Rei dizer do alto daquela serra: Tudo quanto daqui estou vendo águas vertentes ao mar por uma linha tirada desde Óbidos pelas cimalhas de Aljubarrota até Porto de Muel, com suas águas e ventos, tudo dou de propriedade aos monges de S. Bernardo para aqui fazerem um mosteiro?


Porventura podiam os Reis dispor deste modo do território da Nação, e mandar que quantos nele morassem paguem o quarto de seus frutos àqueles ociosos frades?



Quê? Os Reis são senhores do fruto do suor de quem trabalha para o darem a quem não trabalha? Podem eles em boa razão tirar uma parte dos frutos dos lavradores para erigir comendas, alcaidarias-móres, almoxarifados, etc., para os dar a quem quer que seja?
...


Custa a crer que só o Sr. D. Afonso Henriques fundasse 150 entre igrejas e mosteiros, e doasse ao mosteiro de Alcobaça 31 vilas, fora outras doações a vários corpos de mão morta.



mesmo depois que o Sr. D. João I constituiu, pela primeira vez uma milícia permanente, e resolveu que houvessem sempre no reino 3:200 lanças de cavalo, e 550 arnezes, fez a distribuição pela seguinte maneira: repartiu 500 lanças pelos capitães do reino, e as outras pelas ordens de Cristo, Aviz, S. Tiago, e prior do hospital. Distribuiu outro sim os 550 arnezes por alguns outros donatários da coroa, cabendo 30 ao prior de Santa Cruz, e 20 ao abade de Alcobaça. Eis aqui os encargos das doações, e os títulos porque os donatários recebiam os quartos, oitavos, e outras quotas de frutos; mas os empregados sumiram-se na noite dos tempos, e as pensões continuaram a oprimir os desvalidos povos.



Enquanto se tratar de forais, ou por melhor dizer, de prestações agrárias parciais, não me hei-de calar …. Não honremos com o santo nome de leis aos forais, nem com o santo nome de contratos a esses actos usurários e lesivos, que fizeram os Leões com as raposas, e os Lobos com cordeiros. Chamemos-lhe roubos;



O extenso terreno dos Coutos de Alcobaça paga de cada moio dezanove e meio alqueires aos frades Bernardos, além do dizimo.



Mas quê? Não só nos querem inculcar como justa lei, e contrato, mas como obra pia, obrigarem os Reis aos cultivadores de extensos terrenos a pagar terço e quarto de todos os seus frutos para manter conventos de ociosos, e ociosas … que desfrutam de grossas rendas só para rezarem, isto é, para fazerem aquilo que todo o cristão é obrigado a fazer.
….


como se pode sustentar que não houve violência em estipular (os) despotismos que achamos escrito nas escrituras dos contratos? Mas porque se escreverão eles? Porque os infelizes colonos não tinham outro remédio senão deixar escrever nelas tudo o que quisessem os senhores, sob pena de se irem andando com o saco às costas por esse mundo de Cristo, e em muitas partes os tabeliães eram os mesmos frades que escreviam quanto queriam, e diziam depois ao oprimido e ignorante lavrador, assine para ai.



Eu insisto pois na minha primeira opinião da total extinção dos forais.”


NOTAS:
As citações forma retiradas do “Diario das Cortes Geraes e Extraordinarias da Nação Portugueza”, que contém as actas dos debates parlamentares, (disponível na internet em: http://debates.parlamento.pt/).
Os foros, o regime da enfiteuse, que se caracterizava pela separação entre a propriedade de raiz e o domínio útil da terra, só foram definitivamente extintos, em Portugal, após 1974.

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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Artistas Ataijenses – Mélia

Cerâmica Figurativa


Maria Amélia Faustino Ribeiro Cordeiro, enfermeira, formada na Escola de enfermagem Ângelo da Fonseca, foi a primeira mulher ataijense a prosseguir estudos para além da quarta classe.

Agora aposentada dedica-se, na sua casa de Ataíja de Cima (uma belíssima casa rural do Séc. XVIII), à pintura e, sobretudo, à cerâmica figurativa, assinando esses trabalhos como Mélia.

Neste blog já antes e brevemente nos referimos ao trabalho de Mélia, a propósito da Exposição “Cerâmica em Alcobaça: de 1875 até ao presente – CeRaMIca Plus” (VER AQUI) e, também, no primeiro post que publicámos subordinado à epígrafe Artistas Ataijenses, onde apresentamos a fotografia de um bonito e original presépio, com o qual Mélia arrebatou o primeiro prémio no 17º Concurso de Presépios promovido, em 2007, pela Câmara Municipal de Porto de Mós. (VER AQUI)

Denunciando o enorme domínio da artista sobre o barro, as figuras modeladas por Mélia são de uma extraordinária vivacidade e humor e de uma grande invenção formal que, ao mesmo tempo, reforça o seu carácter simbólico.

Nuno Álvares Pereira, a Padeira de Aljubarrota e Santo António, são algumas das figuras que, entre muitas outras, a autora tem modelado em muitas formas, das mais clássicas às mais inventivas.


Mélia, na Aljubarrota Medieval, 2011, ajudando a despertar o interesse dos jovens pela modelagem do barro:



Algumas das peças que a artista levou à Aljubarrota Medieval, 2011:




Contactos da Mélia:
Rua Lagar dos Frades, n.º 52
Ataíja de Cima
2460 Alcobaça
Tel: 262585470


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sábado, 20 de agosto de 2011

Festival das Sopas 2011

Domingo, 11 de Setembro de 2011



O Festival das Sopas da Ataíja de Cima 2011, vai realizar-se no próximo dia 11 de Setembro, junto ao Estádio da Rã e à Casa do Monge Lagareiro, à sombra das árvores do Largo do Cabouqueiro.

De manhã terão lugar os habituais jogos de futebol entre solteiros e casados, femininos e masculinos. Segue-se o Almoço Convívio / Festival das Sopas, onde haverá, também, grelhados mistos.

Está, já, garantida a presença de 14 sopas:

- Sopa Castanha
- Sopa de Pedra
- Sopa de Inverno
- Sopa de Peixe
- Sopa de Massa e Bacalhau
- Caldo Verde
- Massada de peixe
- Misturadas
- Canja
- Sopa de Chícharos
- Sopa de Legumes
- Sopa de Grão
- Sopa de Abóbora
- Sopa de Polvo

Preços: Gratuito para crianças até aos seis anos; 6€ para crianças dos seis aos doze anos; 12€ para os demais participantes

Será um dia muito bem passado, um grande convívio e, se o São Pedro colaborar, será tão bom ou melhor do que foi o do ano passado (VER AQUI) que só terminou passava das vinte horas.

Se as previsões meteorológicas o aconselharem, o evento será transferido para o Salão Cultural Ataíjense.


Para que tudo possa ser devidamente organizado e programado, será bom que a organização tenha uma ideia do número de participantes. Assim, agradece-se a sua pré-inscrição no Salão Cultural Ataíjense.



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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As Solas e a Charrua

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O insólito nome de solas (sólas) era dado na Ataíja de Cima (e não só, uma vez que o DPLP [in http://www.priberam.pt] identifica a palavra, com o mesmo significado, como um regionalismo português) a um tronco de madeira, prolongado por uma corrente com um gancho que, funcionando como cabeçalha, ou timão (ou temão) servia à junta das vacas para rebocar as alfaias.

As solas que hoje aqui trazemos pertenceram ao meu tio António Agostinho da Graça, são constituídas por um tronco de cerca de 12 centímetros de diâmetro e um metro de comprimento (32 cm da ponta até ao furo para a chavelha) ao qual se fixa uma forte corrente de ferro terminada no gancho de engate na alfaia agrícola (a charrua, a grade, ou o trilho, às vezes, uma zorra). Tem o comprimento total de 3,07 metros.



A charrua a que aquelas solas serviram para atrelar, é uma charrua Tramagal, de aiveca reversível, inteiramente construída em ferro, do que foi o último modelo que foi corrente na fase final das alfaias agrícolas de tracção animal.

 
 
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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A casa do Couto

Um burguês de Alcobaça proprietário na Ataíja de Cima e, ao correr da pena, uma profissão extinta: O carreiro.


O Couto, um comerciante alcobacense de tecidos, foi um dos muitos burgueses que, durante mais de um século, possuíram as maiores e melhores propriedades da Ataíja de Cima.

Foi dele o olival conhecido por Olival do Couto ou, Olival do Sá que, em meados do Séc.XX, era a única propriedade ataijense com caseiro residente (ainda existem as ruínas da casa, com seus cómodos e, em frente, do outro lado da serventia de acesso, a cisterna). Em parte deste olival encontram-se agora as instalações da empresa Germano & Cordeiro, Lda.

Também foi dele a casa abaixo fotografada, perto da Capela de Nossa Senhora da Graça.

Esta casa, anexa à de Sabino Vigário, foi por este comprada ao Couto e usada como “casa do ofício”, onde o Sabino fazia os seus biscates de sapateiro, nos tempos mortos da sua actividade principal que era a de “carreiro”.

O carreiro era quem, com a sua junta de vacas, fazia todos os trabalhos que hoje são desempenhados pelos tractores e camiões: lavrar e gradar, transportar os produtos agrícolas, o mato e a lenha e todos os materiais de construção.

O carreiro ganhava a jorna correspondente a quatro homens e tinha, ainda, direito a almoço que era, sempre, melhorado: um refogado leve, sobre o qual coziam arroz ou massa de meada, com grão-de-bico ou feijão, acompanhados por um apontamento de bacalhau.

Nos primeiros dias de Setembro, quando o serviço da eira já tinha há muito terminado e as palhas já estavam arrecadadas, ainda era cedo para as lavouras de Inverno e as vindimas locais só teriam lugar lá para o fim do mês, pouco trabalho havia para um carreiro.

Então o Sabino (e o mesmo fazia António Matias) metia-se, a pé, com a sua junta de vacas que rebocava dois carros, cada um com sua tina e, lá ia, dois dias de caminho, até ao Bombarral para fazer o transporte das uvas para as adegas.


Não foi há tanto tempo assim. O filho Arnaldo, pouco mais velho do que eu, aí está, vivo e de boa saúde e bem lembrado dos muitos dias que passou conduzindo aquela junta de vacas.

A casa do Couto

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Formação de Uma Casa Rural Ataíjense

1845 - 1942


Nota prévia:
Dizem-me que os posts devem ser curtos e ameaçam-me: Se não, ninguém os lê.
Ora, este post é bastante longo. Podia, talvez, ser subdividido. Mas não. Este blog existe para divulgar a Ataíja de Cima, a sua história e as suas histórias e esta é uma história que, em meu entender, merece bem ser lida na sua totalidade e não às fatias. Espero que os leitores concordem comigo.



Um conjunto de documentos zelosamente conservados na família, permite-nos acompanhar a formação de uma CASA RURAL, - quer dizer, o processo de consolidação da propriedade rústica, liberta de outras peias que não os impostos estaduais, nas mãos de uma família popular – na Ataíja de Cima dos Séc. XIX e XX, imediatamente após o triunfo da Revolução Liberal e a extinção das Ordens Religiosas.

Em 7 de Setembro de 1845, conforme consta de escritura pública lavrada nessa data em Alcobaça, no Cartório do Tabelião Joaquim Eliseu Ribeiro, o carpinteiro Luís Ribeiro, da Ataíja de Cima, comprou, por 40$800 réis, a Paulo dos Santos e mulher Maria Joaquina, dos Covões, uma terra amanhadiça, sita ao Curral do Galego, confrontando a Norte com José Machado, a Sul com Manuel Martins e com ele comprador, a Nascente com António de Horta e a Poente com Luís Dias.

Trata-se de um terreno livre, confinante com terrenos livres e cuja razão da venda parece obedecer a critérios de proximidade. Como noutros casos que adiante veremos, o vendedor é, quase sempre, alguém que mora longe ou relativamente longe (aqui, cerca de 3 a 4 Km o que sempre implicaria o gasto de uma hora e meia ou duas horas, nas deslocações entre o terreno e o domicílio).

Em 2 de Julho de 1848, menos de três anos depois, vamos, no entanto, surpreender Joaquim Heitor e sua mulher Ana Umbelina, sogros do Luís Ribeiro, a proceder à venda a foro, a José Calado da Fonseca e sua mulher Maria da Assumpção Horta, do Juncal, pela quantia de 48$000 réis, de umas cazas com seu quintal, na Ataíja de Cima, que partem de Norte com António Pedro de Aljubarrota, sul com Luís Ribeiro, da Ataíja de Cima, e uma terra de pão e vinha no sítio dos Tubaroens que parte de Norte com João de Sousa, Sul com José Coelho ambos da Ataíja, ficando para si com o domínio útil dos prédios vendidos em regime de aforamento perpétuo, pelo foro anual de oito alqueires e meio de trigo, pago em casa do comprador no dia 15 de Agosto de cada ano, não podendo os foreiros vender, alienar, dar, partir ou dividir, tendo de manter as propriedades unidas em uma só pessoa.

O que significa esta venda? Não sabemos mas, tratando-se, aparentemente, de um revés (enquanto o genro compra, o sogro vende), poderá corresponder a uma forma de financiamento para investimento, ou tratar-se de resolver problemas de solvibilidade do casal alienante.

Em 1867, Luis Ribeiro e sua mulher Ana Coelho e a mãe desta, a referida Ana Umbelina, fizeram as partilhas dos bens do falecido seu pai, sogro e marido Joaquim Heitor. Para a Ana Coelho ficaram o assentamento de casas com um forno, pátio e quintal, uma terra de semeadura à Seixeira e uma terra de pão com uma figueira chamada a Tibarôa. Trata-se, sem dúvida, das mesmas casas e da mesma terra, no sítio dos Tubaroens, de que o Joaquim Heitor e mulher tinham feito a venda a foro atrás referida, foro esse que o Luís Ribeiro libertou em data incerta, como se infere da escritura de 2 de Julho de 1848 que, ao final, tem aposto: “Recebi de Luis Ribeiro da Ataija de sima cinco mil quatro sentos réis Fonseca”.

Em 1870 Luís Ribeiro prosseguia com as compras, desta vez a Manuel Branco, da Ataíja de Baixo, de uma propriedade sita no Casal da Ordem .

Em 1871 comprou a Alfredo Aníbal de Mendonça Heitor, solicitador de causas na Chamusca, e a sua Espoza Dona Roza Carolina do Prado de Macedo, (ou Rosa Carolina do Prado Lacerda de Macedo) o domínio directo de um foro na Cova do Vital. Os vendedores foram representados pelo “Ilustríssimo Snrº” Raimundo de Souza do Prado Lacerda, proprietário, residente em Aljubarrota.

Trata-se, os Prado e os Lacerda, de poderosas e extensas famílias, oriundas de uma nobreza antiga, cujas ligações à nossa região ainda não consegui esclarecer cabalmente mas de que resultaram a titularidade de grandes extensões de terra na Ataíja de Cima, na zona imediatamente a norte do lagar dos frades. Esta aquisição representa por isso, uma das etapas da substituição da pequena nobreza (ou de elementos do funcionalismo, designadamente militares, a ela ligados por laços de casamento), pelos proprietários locais.

No ano de 1874, comprou a José de Sousa Lacerda (familiar do Raimundo referido na compra anterior), o domínio directo sobre um foro de 6 alqueires e meio de trigo, na Cova do Vital, o qual pagava Bento Carreira, foro este constituído em 1866. Ou seja, o crescimento, em número, dos elementos das famílias fundiárias, leva à divisão do domínio directo das propriedades, com consequente redução dos foros individualmente recebidos, de tal modo que, pela redução dos proventos, estes novos proprietários são forçados à sua venda.

Em 1878 comprou ao mesmo José de Sousa Lacerda mais um bocado de terra no mesmo sítio da Cova do Vital. É de notar que a compra incide apenas sobre uma parte da propriedade, uma vez que a parte vendida fica a confrontar, a Norte e a Nascente, com os vendedores.

Em 1885 comprou a Luís João de Sousa, uma terra de semeadura denominada "Os talhos", sita ao Outeiro, na Ataíja de Cima, num dos poucos casos em que a compra é feita um conterrâneo.

Em 1887 comprou a João Coelho, da Cumeira, uma terra no sítio da Cova da Creada.

Em 1890 comprou mais uma terra na Cova do Vital a José Ribeiro da Conceição, da Quinta da Cruz.



Em 1895 tem início um novo ciclo de aquisições, agora pela mão de Luís Ribeiro Júnior, filho de Luís Ribeiro que, nesse ano, comprou uma terra nos Olivais a Joaquim Francisco, solteiro, morador na Quinta das Laranjeiras, Várzea, Santarém.

Em 1909, mais uma compra, esta a José dos Santos Russo, da Boieira, de uma terra no sítio das Tubarôas.

Em 1912, compra dois terrenos a proprietários da Cumeira de Baixo.

No mesmo ano, compra a José Trindade Oliveira e esposa D. Maria do Livramento Sousa e Oliveira, de Alcobaça, “… o domínio directo de um foro de três alqueires e meio de trigo, imposto sobre uma terra de semeadura aos Fiéis de Deus, de que o comprador é enfiteuta, a confrontar de Norte com Genoveva Maria viúva, Sul com Tibúrcio dos Santos, Nascente Constantino dos Santos e Poente com caminho público, que é deles vendedores que a herdaram de sua mãe e sogra D. Maria Amália Trindade Oliveira”.

Em 1915, compra um olival a José Coelho da Silva, de Alcobaça.

Em 1929, compra uma courela com oliveiras, na Cova das Freiras, a Joaquim Pedro da Silva, de Albergaria, Juncal.

Em 1931, compra de umas casas e cómodos e terra de semeadura a Francisco e a Tomé Ribeiro, irmãos, da Ataíja de Cima.



É agora, a vez de o neto entrar em acção:

Em 1938, José Ribeiro compra a José Coelho de Sousa e Manuel Coelho de Sousa, solteiros, da Ataíja de Cima, uma terra de semeadura.

Em 1940 compra a José Alexandre dos Santos Brilhante e mulher Alice Cardoso de Brito Brilhante e a Lucinda de Jesus Brilhante, de Aljubarrota, metade de um olival.

Em 1941 Compra a Joaquim António da Silva e mulher Maria Pereira, dos Molianos, metade indivisa de um prédio rústico denominado Olival da Ponte.

Em 1944 comprou a Raul Ferreira da Bernarda, o muito conhecido industrial de cerãmica, de Alcobaça, a parte que este possuía no Olival do Santíssimo.



O maço de documentos que temos presente inclui, ainda, diversos outros, relativos a negócios de terceiros e cuja presença significa que também os terrenos a que se referem vieram, posteriormente, a ser integrados no património dos Ribeiro:

O testamento, de 1822, (ver AQUI), de Micaella dos Santos, viúva de Manuel Lopes, da Ataíja de Cima; no qual esta institui por universal herdeiro e testamenteiro a Paulo dos Santos e faz deixa a Ricardo dos Santos, exposto do Hospital Real da cidade de Lisboa, de um talho de terra de pão com suas árvores no sítio da Seixeira, que parte do Norte com Joaquim Rodrigues, mais outra fazenda terra de pão e pousio fechada sobre si no sítio da Figueirinha que parte do Nascente com Manuel Vitorino, do Cadoiço.

O emprazamento que, em 1829, fez José da Trindade, do Casal do Pereiro, a Bernardo de Sousa e mulher Maria Joaquina, do Cadoiço, de uma terra de pão com sua testeira de mato aos Fiéis de Deus, a qual confronta de norte com António Carvalho, do Carvalhal, do Sul com Alexandre Rodrigues, de Aljubarrota, Nascente com José de Sousa, do Cadoiço, Poente com José Maria de Sousa, da Ataíja de Cima;

A hipoteca, de 1916, em garantia de empréstimo, constituída por Joaquim Coelho de Sousa e mulher Maria Coelha ou Maria Luísa a favor de Joaquim Marques Alves da Silveira, sobre uma terra de semeadura, oliveiras e mato no sítio do Vale Ruivo, a confrontar de Norte com António Dias, João Luís e outros, Sul com herdeiros de Bento Alexandre, Nascente com Serventia e Poente com Francisco Vigário e uma terra de semeadura chamada Os Talhos, a confrontar de Norte com caminho, Sul com Manuel Ângelo Coelho, Nascente com Manuel Machado Batista e Poente com Francisco Vigário e Luís Ribeiro;

A compra, feita em 1939, pelo Capitão Silva Mendes a Manuel Ângelo da Silva, de 1/8 do Olival dos Frades;



O financiamento de todas estas aquisições e a obtenção da liquidez indispensável à sua adequada exploração exigiu, por várias vezes, o recurso ao crédito.

Para além da venda a foro que os sogros do Luís Ribeiro fizeram, em 1848, da própria casa de morada, como já referimos, temos presentes documentos que comprovam que, pelo menos por quatro vezes, foi necessário recorrer a empréstimos:

Em 1862 quando Luís Ribeiro se confessa devedor a Francisco Pereira, de Aljubarrota, da quantia de 55$000 réis;

Em 1874, um dia antes da compra que nesse ano fez a José de Sousa Lacerda e, certamente, para a financiar, quando o Luís Ribeiro contraiu com Maria Micaela, dos Casais Canários, Vestiaria, um empréstimo da quantia de 48$000 réis, pela qual fica a pagar a retribuição anual de oito alqueires de trigo, compra de que foi fiador José de Oliveira, dos Casais de Santo António, Vestiaria.

Em 1880, quando contrai, com António Delgado, da Fonte Santa, uma dívida de 48$000 réis;

E, em 1898, quando o filho, Luís Ribeiro Júnior, contraiu um empréstimo de 250$000 réis, ao juro de 7%, (dívida que liberará em 1903) dando de garantia a hipoteca de 2 prédios rústicos que, diz-nos a escritura de mútuo, foram adquiridos, um em hasta pública pelo inventário de António Pedro Carreira que foi de Aljubarrota e o outro por compra feita a José Carlos, da Ataíja.



Conclusões:

Ao longo de um século e três gerações, entre meados dos séculos XIX e XX, Luís Ribeiro, o filho Luís Ribeiro Júnior e o neto José Ribeiro, desenvolveram uma notável e persistente actividade de aquisição de terras, de que resultou a constituição da maior CASA RURAL da Ataíja de Cima a qual, à data do falecimento de José Ribeiro, em 1973, abrangia setenta e oito prédios.

As compras foram, na sua grande maioria, feitas a não residentes, num movimento de concentração da propriedade numa área geográfica restrita (num raio de cerca de dois quilómetros, medidos do centro da aldeia), o que se mostrava fundamental para permitir a exploração directa.

Várias das aquisições correspondem a liberação de foros, o que dá a este processo aquisitivo um carácter de modernidade, quer por propiciar a prevalência da propriedade plena quer porque, do mesmo passo, se afastam as famílias “ilustres” antes detentoras do domínio directo da terra.


José Ribeiro, numa fotografia de 1972 (poucos meses antes do seu falecimento), aqui acompanhado da mulher, Emília Faustino, de quatro dos seus muitos netos, (Paula, Pedro, Rafael e José Fernando) e do bisneto Pierre.
 
 
 
Com os meus agradecimentos à Amélia e ao Pedro
 
 
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