quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lagares de azeite - As prensas

Temos falado aqui e havemos de continuar a falar, de lagares de azeite.
No entanto, antes de voltar aos lagares de azeite da Ataíja de Cima, julgamos interessante dar algumas informações sobre os diversos tipos de prensas.
É que, a propósito do lagar dos frades, muito se fala em lagares de varas e os leitores mais jovens terão talvez dificuldade em saber como funcionava tal maquineta.

Procuramos nos livros e na internet mas não encontramos uma fotografia ou um desenho que nos parecesse suficientemente claro, pelo que decidimos fazer nós um esquema:



(Esquema de uma prensa de vara)

Este tipo de prensas não se usava apenas nos lagares de azeite mas, também, nos de vinho. Quem tem a minha idade lembra-se, certamente, de ver na Ataíja de Cima um lagar de vinho equipado com uma prensa de vara.
Era propriedade de Augusto Ribeiro e ficava na Rua dos Arneiros, do lado poente, em frente à casa do proprietário (hoje a casa de António Salgueiro), mesmo onde hoje é o caminho de acesso à casa de José Neto (Diabo).
O sistema de funcionamento era bem simples:
Fazendo força nas alavancas para fazer rodar o fuso, este puxava a vara para baixo, apertando o enceiramento e, continuando  a rodar o fuso, o peso (que era uma grande pedra, semelhante a uma mó) acabava por ficar em suspensão, obtendo-se, então a máxima pressão possível e que era a correspondente ao peso do fuso, do peso e da vara (que era, na verdade, um grande tronco).

Este tipo de prensa foi usado durante séculos até que, já no Séc. XIX, se começou a usar a prensa de parafusos:
(Prensa de parafusos, num lagar de azeite do concelho de Arouca. A fotografia foi publicada em "Estudos Aveirenses", n.º 2, ISCIA, Aveiro, 1994)


Após a vulgarização dos motores diesel surgiram as prensas hidráulicas, com as quais foram equipados todos os lagares da nossa região que eu conheci a funcionar e, ainda hoje, equipam a grande maioria dos lagares de azeite de todo o país:
                           
(Prensas hidraulicas num lagar de azeite da freguesia de Olalhas, concelho de Tomar, durante a campanha de 2009)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Festa do Salão Cultural Ataíjense - 1 e 2 de Maio de 2010

A propósito da concentração e passeio de motorizadas antigas que estão agendados para a manhã do dia 2 de Maio, Domingo, eis uma fotografia relativa à primeira concentração de motorizadas antigas que, no âmbito dos festejos de Carnaval, se realizou na Ataíja de Cima no dia 3 de Fevereiro de 2008:


As motorizadas eram pequenas motocicletas, dotadas de um motor que, nos termos da lei, não podia ter mais de 49cm3 de cilindrada.
Eram legalmente equiparadas a bicicletas (bicicletas com motor auxiliar) e, por isso, não exigiam carta de condução mas, apenas, uma licença municipal, pelo que podiam ser conduzidas por toda a gente ainda que analfabeta.
Por isso, as motorizadas provocaram uma pequena revolução na mobilidade dos povos rurais que, assim, podiam deslocar-se mais facilmente e para maiores distâncias e procurar emprego em terras vizinhas, o que antes lhes estava vedado por falta de meios de deslocação.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Festa do Salão Cultural Ataíjense

25.º Aniversário do Salão Cultural Ataíjense

Nos dias 1 e 2 de Maio vai realizar-se a festa comemorativa do 25.º aniversário do Salão Cultural Ataíjense.

No sábado, 1 de Maio de 2010, haverá baile com

LF Music

No domingo, 2 de Maio de 2010, pelas nove horas, o dia começará com um peditório pelas ruas da aldeia ao mesmo tempo que terá início a concentração de motorizadas antigas, para um passeio que decorrerá entre as 10h00 e as 13h00, seguindo de almoço.

Passeio de motorizadas antigas

Pelas 16h00 terá inicio uma

Grandiosa Vacada

Às 20h00 abrirá o

Restaurante

Os festejos terminam com o baile animado por

J C Power

sábado, 17 de abril de 2010

A matança do porco

A matança do porco era a única festa familiar não associada ao calendário religioso, pois não era uso festejar aniversários e os feriados nacionais, quando não coincidentes com festas litúrgicas eram completamente ignorados. Na matança, devido à complexidade das tarefas a realizar, era necessário envolver toda a família, já que, só para segurar e matar o porco, eram precisos quatro homens, um em cada pata.

As mulheres (que tinham começado o dia a cozer o pão) lavavam as tripas e faziam as morcelas e comida para toda a gente. Era a ocasião para comer todas as vísceras do porco que se não podiam conservar na salgadeira ou no fumeiro.

Em casa de meu pai, quando já fazíamos a matança não por estrita necessidade mas pelo prazer do convívio, procurávamos recuperar, até onde possível, a tradição.

Morto o porco, chamuscado (ultimamente a maçarico, antes com tojo gatanho que se ia propositadamente apanhar nos matos), barbeado e bem lavado, dependurado na escápula, aberto e sangrado e retiradas as tripas, comiam-se, com pão acabado de cozer, as postas de bacalhau assadas nas brasas, desfeitas em lascas, temperadas com muito alho e regadas de azeite. De seguida, as mulheres iam a Chiqueda (ou à rigueira, se levasse água) lavar as tripas (prática, obviamente poluente, abandonada a partir do momento em que houve água canalizada) em sucessivas águas, limpas de gorduras, passando-as por um gancho de cabelo apertado nos dedos e esfregadas com laranja e cebola.

Entretanto, o desmanchador retirava as vísceras do porco, após o que este era envolto num lençol que se fechava com alfinetes de dama e ficava a escorrer até ao dia seguinte.

Faziam-se as morcelas, enchendo as tripas (com a ajuda de um pequeno funil de tubo largo que não tinha outro uso) com alguma gordura, o sangue e arroz e comiam-se cozidas, acompanhadas de couve lombarda e batata e dos bofes e outras vísceras, também cozidos.

O fígado, a que chamamos cachola, era cortado em cubos e frito em banha fresca num grande tacho de barro (peça que também não tinha outra utilidade durante o resto do ano), temperado apenas com sal, cominhos e vinho (o vinho só se acrescenta a meio da fritura para o fígado ficar bem rijo), era servido sobre fatias de pão, acompanhado com batatas cozidas. Um prato delicioso, de sabor forte, não especialmente recomendável a estômagos sensíveis.

O dia seguinte era para desmanchar o bicho.

Primeiro, no leito de gordura que envolve os rins, retirados estes, colados à espinha, um de cada lado, ligando a zona das costelas à da bacia, aí estavam dois pequenos músculos, os lombinhos, lombetos ou lombelos, como quiserem chamar à parte mais deliciosa do porco que, abertos, temperados com sal, assados nas brasas e cortados em pequenos cubos, regados com azeite, vinagre e alho migado eram comidos com pão, cada um com seu garfo, debicando na travessa.

Entretanto, a desmancha continuava, separando-se a carne da salgadeira da do fumeiro, cortando-se esta em pequenos pedaços que ficavam a marinar em vinho para, no dia seguinte, se fazer a chouriça.

Durante todo o tempo (excepto durante a matança, onde se não queriam pessoas que tivessem pena do animal que isso atrasava a morte), as crianças andavam sempre por perto e eram, frequentemente, chamadas pelo desmanchador para uma lição prática de anatomia (se queres ver o teu corpo, mata o teu porco).

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os frades e a Ataíja de Cima - II

As fronteiras dos Coutos de Alcobaça foram, desde muito cedo aliás, razão de frequentes e intensos conflitos.

Os frades de Alcobaça eram, ao que parece com toda a razão, acusados de alargar indevidamente as fronteiras dos seus domínios para além do que lhes tinha sido concedido por D. Afonso Henriques.

À Ataíja de Cima, situada sobre o limite norte dos coutos, aconteceram as agruras que são comuns às terras de fronteira: Disputadas por ambos os lados, ficam umas vezes sob o domínio de um deles, outras vezes sob o domínio do outro.

A Professora Iria Gonçalves, um dos mais abalizados historiadores das coisas que dizem respeito ao Mosteiro de Alcobaça, no seu livro O Património do Mosteiro de Alcobaça nos séculos XIV e XV, 1ª edição, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1989, dá conta de uma dessas graves contendas que opôs o Mosteiro a D. Afonso IV e se saldou, após oito anos, numa sentença de 1337 favorável ao rei.

Insatisfeitos com a solução, os frades de Alcobaça conseguiram que D. Pedro I, logo a seguir, em 1358, reconhecesse limites mais alargados aos coutos que, a norte, passaram a incluir a Ataíja de Baixo e a excluir a Ataíja de Cima (op. Cit., págs. 351 e segs.).

Por mais trezentos anos continuaram as disputas sobre os limites dos Coutos de Alcobaça que o Mosteiro, aliás, quase sempre ganhou, facto a que não é estranho o seu afastamento da casa-mãe francesa e a estreita relação com a Coroa que se iniciou com D. Pedro I e não parou de se aprofundar em toda a segunda dinastia, com os abades donatários, dois dos quais (D. Afonso de Portugal e D. Henrique, o último rei da segunda dinastia), eram filhos do rei D. Manuel I e foram, simultaneamente com o abaciato de Alcobaça, Bispos de Lisboa.

Durante o domínio filipino, foram outros os padres que beneficiaram da proximidade com o poder régio (o Bispo de Leiria, D. Diogo de Castilho era partidário dos Filipes e chegou, por isso, a Vice-Rei de Portugal).

Nesse tempo, no dia 14 de Julho de 1587, em que o Bispo D. Pedro de Castilho, tomou posse da vila de Ourém, também tomou posse da de Porto de Mós e da ametade da vila de Aljubarrota que era a freguesia de São Vicente (O Couseiro, Capítulo 20º).

Mas, reposta a independência com a Restauração de 1640, logo a renovada importância política dos frades de Alcobaça se revelou e, através de novas doações feitas por D. João IV, os Coutos atingiram a sua máxima dimensão.

Pouco depois começaria a plantação de oliveiras em toda a região da borda da serra que, um Século depois, culminaria na plantação do Olival do Santíssimo e na construção do famoso Lagar dos Frades da Ataíja de Cima.