terça-feira, 9 de abril de 2024

O brunil

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Hoje em dia, o burro é, em Portugal, um animal em perigo de extinção. No entanto era, ainda há pouco tempo, o mais precioso auxiliar dos camponeses e pequenos proprietários rurais, já que desempenhava quase todas as funções em que, entretanto, foi substituído pelas bicicletas, motorizadas e automóveis e atrelados de motocultivadores e mini-tractores.
De facto, o burro era meio de transporte de pessoas e bens e tanto servia para levar o dono ao mercado como, equipado com cangalhas ou seirões, ou atrelado ao carro, transportar toda a casta de bens.
Ao que parece, originário da África do norte, o burro está domesticado há cerca de 5.000 anos e espalhou-se por toda a bacia mediterrânica e, levado por portugueses e espanhóis, pelas Américas.

Oatman, antiga cidade mineira do Arizona, nos Estados Unidos da América, será, aliás, o único lugar do mundo onde os burros não correm riscos de extinção: Interrompida abruptamente a exploração mineira de prata, Oatman foi abandonada pelos seus habitantes e, os burros dos mineiros foram, igualmente, abandonados.
Os animais, assilvestrados, fazendo juz à resistência e frugalidade da espécie, conseguiram sobreviver naqueles difíceis terrenos semi-desérticos e vagueiam, às dezenas, pelos campos e pelas ruas e, gozando de adequada protecção legal,  tornaram-se uma atracção turística para os muitos viajantes da velha Route 66. (pode ver no Youtube vários vídeos sobre os burros de Oatman).

Mas, por cá, estão mesmo em risco de extinção e, na Ataíja de Cima, sobram dedos da mão para contar os que subsistem.

Daí, a minha dificuldade em um brunil para fotografar, o que só há alguns dias consegui:



Brunil s.m. - O colar, em forma de ferradura, feito de couro, com enchimento de palha, que se coloca no cachaço (pescoço) do burro para, sobre ele, assentar a canga do carro.


Notas:
A palavra brunil, com a qual, na Ataíja de Cima, designamos esta peça, não consta de nenhum dos dicionários consultados - DPLP, Houaiss ou José Pedro Machado.
Em S. Brás de Alportel ouvi chamar-lhe bolim mas essa é palavra que os dicionários Priberam e José Pedro Machado também não reconhecem. O Houaiss reconhece bolim mas dá-lhe significado muito diferente. É, diz, a bola menor no jogo da bocha, sendo bocha um jogo de lançar bolas contra outra mais pequena, à semelhança da laranjinha ou da petanca.
Palavra parecida é molim, que o Priberam diz que é o nome que no Alentejo e no Algarve se dá a uma "espécie de almofada ou chumaço em que assenta a canga dos bois ou o cangalho dos cavalos".
Para J. P. Machado molim é, sem mais, "almofada em que assenta a canga".

Estou muito curioso de saber como tal objecto, o brunil, se designará noutros lugares de Portugal.
Haverá um leitor bondoso que nos queira ajudar?

PS: Este texto foi inicialmente publicado em 09-04-2012,  revisitando-o agora, em 2024, confirmo que, poucos anos depois de publicado o texto inicial, desapareceu o último burro de quatro patas que houve na Ataíja de Cima.

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Alcunhas Ataíjenses - O Maçarico

 

As alcunhas nascem, em geral, da necessidade de distinguir uma certa pessoa das demais do mesmo nome, ou profissão ou que, por qualquer outra razão, possam ser confundidas.

As alcunhas mais vulgares podem referir-se  à família do nomeado (ex. Manuel Augusto, Zé da Ilda), ao local de origem ou de residência ( Maria da Serra, Nuno do Cadoiço), a uma profissão ou característica física (Serrador, Mouço, Russo, Maneta) um comportamento (Tunante),  uma habilidade ou, até, um facto (Tranca Ruas).

Em alguns casos, é difícil saber  ou sequer imaginar a razão de uma certa alcunha. É o que se passa com o nosso Maçarico.

Maçarico porquê, se o maçarico é uma ave de arribação, de porte médio e pernas e bico longos, que em Portugal ocorre durante as migrações ou como invernante, vive em zonas ribeirinhas, ou alagadiças, não existe na Ataíja e nada nos seus hábitos ou comportamentos pode ser comparado ao nomeado? 

Igualmente, não parece aplicável ao caso qualquer dos outros significados de maçarico, seja o de aparelho a gás usado pelos soldadores, seja o de novato, inexperiente, como também eram, no meu tempo, chamados os jovens recrutas no serviço militar.

Seja por que for, a alcunha pegou e era mesmo universal, já que toda a gente conhecia o José Carvalho Quitério – n. 1942, f. 2023 - (Quitério porque tínhamos um bisavô comum), por Maçarico ou Zé Maçarico.

O Zé Maçarico, quando jovem pré-adolescente e adolescente, era pequeno e ágil como um gato, mestre em correr e saltar, subir às árvores e descobrir ninhos em lugares recônditos. Irrequieto e ladino, era capaz de acrobacias e esfolagates, de caminhar sobre andas, ou de fazer rolar uma barrica equilibrando-se nela, como um artista de circo. E, quase não havia dia em que não fosse autor de uma qualquer pequena proeza, em geral, com desagrado dos adultos.

Era um pinante, que é nome de gente capaz de fazer o pino e de cometer outras proezas acrobáticas.

Ou, talvez não fosse tanto assim. É que, nestas coisas, vale o ditado que ouvi à minha avó: ganha fama e deita-te a dormir.

Da ligeireza todos fomos testemunhas. Lembro-me de quando, ele adolescente, houve um domingo primaveril em que, depois da missa em Aljubarrota, o trabalho colectivo foi retirar do telhado da Capela os ninhos de pardal que o infestavam. O telhado da Capela estava então em muito mau estado. Ainda coberto de telhas de canudo, algumas partidas e muitas deslocadas, debaixo delas achavam-se dezenas, se não centenas, de ninhos de pardais, pássaros que naquele tempo se viam pela Ataíja em grandes bandos e, fazendo jus ao seu nome completo de pardal-do-telhado, tinham carregado para a cobertura da capela grandes massas de palha, pequenos troncos, cabelos e crinas e pelos, de gente, de burros e de cães, bolas de lã que as ovelhas tinham deixado agarradas aos arbustos, pedaços de tecido e o mais que acharam para fazer os seus toscos e grandes ninhos, enormes para os pequenos habitantes e mais ou menos informes salvo o centro onde são depositados os ovos e criados os filhotes, única parte desses ninhos que mostra evidentes cuidados de construção.

Já chovia dentro da Capela e era, por isso, necessário remover os ninhos e repor as telhas em devida posição e lá foi o Maçarico para cima do telhado da igreja, onde convinha gente equilibrista e leve que fizesse o trabalho e não partisse mais telhas.

A coisa saldou-se por uma enorme quantidade de palha, muitos ovos e algumas pequenas crias espalhados em redor da igreja. Hoje, já não se cultivam cereais na Ataíja de Cima e a população de pardais diminuiu drasticamente.

Mas, as proezas do jovem Maçarico passaram muito por moer o juízo ao meu avô Agostinho que era dono da fazenda, o Cerrado, que fica mesmo em frente da casa onde nasceu.

Talvez encorajada pela irrequietude do Maçarico, uma sua irmã subiu um dia pelo portão do pátio e, de pé, sobre o pequeno pedaço de parede que o ladeia, separando-o da casa, levantou a saia, fez força e lançou uma mijareta que atravessou o então estreito caminho, onde não cabia mais do que um carro de vacas. O pobre do meu avô ficou embaçado com a proeza e não conseguiu calar-se, pelo que o feito andou de boca em boca.

O Maçarico fazia outras judiarias.

De uma vez, munido de uma bomba de foguete introduziu-a num buraco que havia num dos esteios que ladeavam o porto por onde os peões acediam ao Cerrado, onde a fez explodir estilhaçando a pedra. Mais uma irritação, das grandes, para o meu avô e sorte para o Maçarico que, com a brincadeira podia ter ficado sem alguns dedos, como aconteceu ao João Pardal.

De uma outra vez, trepou, só porque sim, a um pinheiro que o meu avô lá tinha, um grande e solitário pinheiro, como então se via nas margens de terrenos de cultivo, aguardando a necessidade do proprietário de o transformar em tábuas.

Quando se preparava para descer, o Maçarico apercebeu-se que o meu avô estava mesmo ali.

- Anda cá meu malandro, desce daí que eu já te coço!
- Não desço nada! – E, em vez disso, viu-se obrigado a subir mais um pouco, para se livrar de uma pequena vara que ameaçava chegar-lhe aos fundilhos.

No meio da propriedade, a mais de cinquenta metros de distância, havia, como era comum em propriedades de certa dimensão e mais afastadas do centro da aldeia ou da casa do proprietário, uma pequena construção que servia para abrigo ou guarda temporária de produtos da terra ou utensílios.  Esta tinha anexa, como aliás também era relativamente comum, uma pequena eira onde o meu avô debulhava cereais e legumes.

- Desce daí, malandro!
- Não desço nada!

Depois de algum tempo passado naquele desce não desço,  diz-lhe o meu avô:

- Ah! Não desces? Vou ali à casa buscar uma machada, corto o pinheiro e já vês se desces ou não desces! E virou costas, fingindo iniciar o caminho para ir pela machada.

O malandrim, por receoso de que o homem viesse mesmo de lá com a machada, ou por a ocasião lhe ter parecido boa para se livrar daquele imbróglio, deixou-se escorregar pelo pinheiro e correu a refugiar-se no quintal paterno.

- Quando cheguei cá abaixo não tinha botão nenhum!

Contou ele, entre gargalhadas de ambos, quando, aqui já há uns bons anos, tivemos oportunidade de recordar tropelias de juventude. 


(Johann Friedrich Naumann - Naturgeschichte der Vögel Mitteleuropas 1905, or earlier works., Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=67082)




quarta-feira, 12 de abril de 2023

Café Centro



Você gosta de coelho grelhado?
Talvez nunca tenha comido e por isso não o saiba.
Ou, talvez nunca tenha comido coelho grelhado no Café Centro, na Ataíja de Cima e, se assim é, então você não sabe o que é um coelho grelhado delicioso.

Todos nós estamos convencidos de que Portugal é um país onde se come bem e, os muitos estrangeiros que nos visitam também gabam a nossa comida. Portanto, é bem capaz de ser verdade que em Portugal se come bem.
Mas, certamente, há lugares onde se come melhor do que noutros. E, nem sequer tem a ver com preço. É possível comer bem numa simples tasca ou nos melhores restaurantes.
Se for comida verdadeiramente portuguesa, a receita é fácil e assenta na qualidade da matéria-prima, cozinhada com simplicidade e moderação de molhos e temperos, valorizando e deixando “respirar” os sabores e os aromas de cada ingrediente.

Na Ataíja de Cima, temos um desses casos: Um sítio onde se come muito bem e a preço muito em conta.
O CAFÉ CENTRO, na Rua dos Arneiros, n.º 63, (bem perto do Largo do Outeiro), com o telefone 262508227.

Ali não há pretensões: Especialmente activo ao almoço dos dias úteis, do que se trata é de alimentar o pessoal das indústrias locais. Gente que gosta de comida boa e simples, doses generosas e preço módico. Por isso, carnes grelhadas e um coelho no churrasco, absolutamente delicioso, ou um honesto frango, bem assado, dourado e de pele estaladiça que é dos melhores que eu já comi, são o forte da casa.
Mas, ao sabor do mercado, aparecem outras iguarias. Hoje, por exemplo, havia, além do mais, galo com esparguete (um verdadeiro galo, não um frango inchado) e uma óptima sopa de peixe.

O Joaquim trata da grelha, de que é um grande especialista.
A Lúcia, sempre simpática e eficiente, cozinha e serve às mesas.

São meus amigos, é claro! Mas, se há coisa que eu nunca faria, era recomendar um restaurante onde me não apetecesse voltar.

O melhor, mesmo, é o leitor experimentar também e deixar o seu comentário aqui, no blog.

BOM ALMOÇO!


O texto acima foi originalmente publicado neste blog em 22-5-2012.
 
Sabendo nós que nestas coisas de restaurantes o segredo estás nas mãos que fazem o trabalho e, por isso, às vezes os sítios mudam subitamente de qualidade, só isso já justificaria a actualização do texto, para dizer aos leitores que, no Café Centro, nada mudou. Nem a ementa, nem a generosidade das doses, nem a qualidade da grelha.

Como tantos estabelecimentos de restauração, a solução para sobreviver à devastação que a pandemia provocou no sector, foi apostar no take away. E, se depois do confinamento ainda me não sentei no Café Centro, a verdade é que entretanto já usufrui por mais de uma vez da qualidade dos seus grelhados.

Por isso posso dizer a quem ler estas linhas: 

O coelho grelhado continua uma maravilha e o frango no churrasco é do melhor que conheço.



12 de Abril de 2023

Hoje, dia 12 de Abril de 2023, faleceu, aos 67 anos de idade, o Joaquim Gomes de Sousa, proprietário, assador e, assim, a alma do Café Centro.
O Joaquim era, não é demais repeti-lo, um grande assador e a fama do seu coelho grelhado trazia gente de longe até à Ataíja e ao seu modesto restaurante.
Partiu cedo, após curta mas implacável doença.
Será recordado, por mim e por todos os que tiveram a oportunidade e o gosto de provar os seus grelhados, pelos momentos de prazer gustativo que a suas aptidões na grelha muitas vezes nos proporcionou.
Descanse em Paz






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domingo, 12 de março de 2023

Nome do pai, apelido dos filhos – alguns patronímicos na Ataíja de Cima


Patronímico é o nome de família, o sobrenome ou, como agora é mais vulgar dizer, o apelido, que deriva do nome próprio do pai ou outro ascendente. No caso de o apelido derivar do nome da mãe ou outra ascendente, diz-se matronímico.

Como sabemos, os assentos paroquiais só se generalizaram, na sequência do Concílio de Trento, em meados do Séc. XVI. A partir daí, numa sociedade como a nossa, onde todos eram baptizados, todos passaram a ter um nome próprio, digamos, oficial.

Mas, o nome, os nomes, existem para permitir distinguir uma pessoa de outra e, o nome próprio é, por si, em regra, insuficiente para tal. Marias há muitas, diz o povo. É preciso, em cada caso explicitar de que Maria falamos. É preciso, sempre ou quase sempre, acrescentar algo ao nome próprio para que saibamos de quem estamos a falar.
Há excepções, claro. Estou a lembrar-me, por exemplo, que o Arnaldo nunca precisou de apelido porque, nos setenta e muitos anos que já conta, nunca houve na Ataíja outro Arnaldo. Se falamos do Arnaldo é dele que falamos. Mas o mesmo se não pode dizer de João, José ou Francisco. Para estes casos é necessário acrescentar um outro nome, seja ele de família, de profissão, de local de residência ou de origem, ou uma alcunha, muitas vezes suscitada por características físicas do nomeado, ou por actos que tenha praticado.

Os nomes de família começaram por ser adoptados por nobres e outra gente importante e, pouco a pouco, por todas as classes, incluindo os camponeses pobres. Aqui, no entanto, já tarde, século XIX andado.

Ora, no séc. XIX deu-se na Ataíja e por todas as povoações em redor um fenómeno curioso que foi o da fixação de um elevado número de enjeitados, expostos, em regra da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que por aqui foram criados e por aqui casaram e constituíram família. As razões para tal fixação serão diversas, mas o certo é que só aconteceu pela necessidade de suprir carências populacionais, o que merece estudo aprofundado mas radicará em dois factos: a tremenda quebra populacional da região, em razão das invasões francesas e, talvez, a necessidade acrescida de mão-de-obra, resultante de novas formas de exploração da terra, na sequência da extinção das Ordens Religiosas.

Seja como for, esses enjeitados eram baptizados no Hospital dos Expostos, sendo-lhes atribuído, por regra, o nome do santo do dia ou outro de conotação religiosa, por vezes, o nome constante de algum papel que acompanhasse o exposto. Quando chegados à idade adulta e à necessidade de adoptar um apelido, optavam, raramente, pelo da pessoa que o tinha criado ou, na grande maioria das vezes, por dos Santos.
Os seus filhos, no entanto, já não eram dos santos mas daquela pessoa em concreto. O filho de um Tiago dos Santos, por ex. passaria então a adoptar o nome próprio do pai como seu apelido e chamar-se-ia João Tiago. O nome do pai passou a apelido do filho. É isso um patronímico.

Na Ataíja Temos vários casos, como, sem querer ser exaustivo:

Agostinho – Agostinho Carlos foi meu trisavô. Era de profissão sapateiro e viveu na primeira metade do Séc. XIX. O seu apelido Carlos tem raízes na Ataíja de Cima pelo menos desde a segunda metade do Séc. XVIII.
No entanto, por razões que nos escapam, os filhos e netos de Agostinho Carlos não foram Carlos mas Agostinho, como o meu avó José Agostinho e os seus irmãos.

Daí resultou que o apelido Carlos apenas subsiste hoje, nas pessoas de Manuel Tomé e de seu sobrinho José Tomé e, porque foi recebido por via materna e não transmitido, com eles se extinguirá.

O apelido Agostinho ainda subsiste mas, a manter-se a tendência de transmissão preferencial do apelido paterno desaparecerá também em uma ou duas gerações.

Bernardino – Bernardino dos Santos, foi pai de Manuel Bernardino e de António Bernardino e de uma Maria que faleceu nova, dizem uns que pela pneumónica e outros que atingida por um raio.

Constantino – Constantino dos Santos, nascido em 1850, exposto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, casou na Ataíja de Cima mas aos 34  anos já era viúvo. Tendo casado em 2ªs núpcias com uma Serafina dos Santos, também exposta, vieram a ter uma larga descendência, sendo o apelido Constantino ainda usado por alguns trinetos menores.

Faustino – Faustino não é, propriamente, um nome ou apelido ataijense. Mas há cá vários descendentes de José Faustino que viveu na quinta do Mogo e foi sogro de José Ribeiro, bisavô, portanto, de Pedro Cordeiro, entre outros.

Faustino era nome próprio, designadamente de um célebre, no seu tempo, Faustino da Gama que foi cavaleiro tauromáquico e dono da Quinta das Janelas, nas Gaeiras, em Óbidos (os mais curiosos poderão ver a descrição patrimonial da Quinta das Janelas na respectiva ficha em Monumentos (http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=24735)
O José Faustino foi criado nessa quinta como filho de pais incógnitos e adoptou como apelido o nome do benfeitor que, aliás, alguns supõem ser o próprio pai.

Lourenço – O mais antigo Lourenço que encontrei na Ataíja foi o meu trisavô Lourenço de Moura (que também usou Lourenço Quitério por ser filho de uma Maria Quitéria). O seu nome próprio transmitiu-se aos filhos como apelido, mas pela predominância de descendência feminina encontra-se reduzido a poucas pessoas da minha geração, incluindo eu próprio, em todos os casos como apelido intermédio pelo que desaparecerá de seguida, ao menos na Ataíja de Cima.

Matias – A transformação do nome próprio Matias em apelido de família ocorre pelo casamento de Matias Coelho com Maria Felizarda, de que nasceu António Matias, que casou com Joaquina Carvalho e foram pais de uma Delfina que faleceu, solteira e sem descendência, aquando da pneumónica e, ainda, de António, Manuel e Joaquim Matias, que tiveram descendência mas, mais uma vez, das dezenas de descendentes apenas uns cinco são rapazes que usam o Matias como último nome

Maurício - Maurício dos Santos, também exposto e também viúvo precocemente, do 2º casamento teve descendência que hoje prossegue, usando os seus tetranetos da linha masculina o apelido Maurício.

Tomé – Tomé é nome próprio e os da minha idade ainda conheceram Tomé Ribeiro, que viveu numa casa que existiu onde hoje é a da sua bisneta Mónica. Mas, Tomé é, também, um apelido, estando vivos o Manuel e o Francisco, filhos de um José Tomé que era filho de Tomé dos Santos, exposto do Hospital dos Expostos de Lisboa (Santa Casa da Misericórdia de Lisboa).

 

  

sexta-feira, 3 de março de 2023

Notícias da América

 

O blog tem estado bastante parado nestes últimos tempos, essencialmente porque o que escrevo é fruto de investigação própria, na qual procuro colocar todo o rigor e respeito pelos factos, o que nem sempre é fácil e é, sempre, moroso. Mas, porque está há disposição de quem o quiser consultar, o blog já teve, desde o seu início, um total de mais de 255.000 visualizações, das quais 1350 no passado mês de fevereiro.

São números que me dão algum prazer, porque permitem a sensação de que não escrevo no vazio. Mas, uma vez que o blog foi pensado como especificamente dirigido aos meus conterrâneos, o alcançar grandes números de visualizadores ou seguidores nunca foi um objectivo e o que verdadeiramente me conforta é o saber que o que escrevo toca, de algum modo, as pessoas a quem se dirige.

Chegou-me agora a notícia de que o blog foi lido por naturais de Aljubarrota, com raízes na Ataíja de Cima, emigrados nos Estados Unidos há quase sessenta anos. Poder ser útil a conterrâneos que se encontram tão longe, há tanto tempo, ajudando-os a recordar alguns factos da sua juventude, deixou-me muito contente e com um acréscimo de vontade de publicar novos textos.

 

É por isso que vos dou conta de um email recentemente recebido:

Hello, sorry for writing in english, hopefully you a better at english than i am at portuguese

I have enjoyed reading your blog about your home town, my mother is from Aljubarrota and had aunts and other relatives from Ataíja de Cima.  She is 95 and has not been able to visit her homeland for many years 

 Her memory is not the best but the best i can figure is 

Her aunt was Maria Da Graca /  sister to her father - this was Antonio Catarino also mentioned on your blog as someone applying for a passport

Her cousin was Luís da Graça de Sousa son of Maria Da Graca also mentioned in one of your posts 

Another cousin, also son of Maria Da Graca was O Quim Velho

I was wondering if you were somehow connected to her family.

My mother is Alexandrina Paulo (nee Piedade), born in 1928 married to Francisco Paulo born in 1927 / both born in Aljubarrota

I was also born in Aljubarrota and our family  emigrated to the USA in 1966 

i read some of the posts to my mother and it brings back some  very fond memories, She tell me often of running away to Ataija de Cima whenever her mother was mad at her and being spoiled by her aunts 

 Thanks again for what  you have created, 

Victor Paulo

 

Tradução (com recurso ao Google Translate):

 Olá, desculpe por escrever em inglês, espero que você seja melhor em inglês do que eu em português.

Gostei de ler o seu blog sobre a sua cidade natal, a minha mãe é de Aljubarrota e tinha tias e outros parentes de Ataíja de Cima. Ela tem 95 anos e não pode visitar sua terra natal há muitos anos.

A memória dela não é das melhores, mas o melhor que posso imaginar é

A tia dela era a Maria Da Graça / irmã do pai dela - esse era o Antonio Catarino também citado no seu blog como alguém que está solicitando o passaporte.

O primo dela era o Luís da Graça de Sousa filho da Maria Da Graça também referido num dos seus posts.

Outro primo, também filho de Maria da Graça era O Quim Velho.

Eu queria saber se você estava de alguma forma ligado à família dela.

A minha mãe é a Alexandrina Paulo (nascida Piedade), nascida em 1928 casada com o Francisco Paulo nascido em 1927 / ambos nascidos em Aljubarrota.

Também nasci em Aljubarrota e a nossa família emigrou para os EUA em 1966.

li algumas das postagens para minha mãe e isso traz de volta algumas lembranças muito boas. Ela sempre me conta que fugiu para Ataija de Cima sempre que sua mãe estava brava com ela e sendo mimada por suas tias.

Obrigado novamente pelo que você criou,

Victor Paulo

 

Actualmente, já não está vivo na Ataíja de Cima nenhum primo da Alexandrina da Piedade. O último foi o Luís da Graça de Sousa, falecido no final de 2021.

Têm, no entanto, a Alexandrina e o seu filho Victor, numerosos parentes ataijenses, desde logo os descendentes de Maria da Graça (nove filhos dos quais só o Quim velho não teve descendência) e, também os descendentes de José Sabino (José Coelho) e Joaquina Rosalia, já que a mãe desta, Rosalia Carvalho, era irmã da Maria da Graça e do António Catarino (e, também, de Maria Catarina que não teve descendência e viveu numa casa que já não existe, no início da Rua das Seixeiras).

 

 

 

 

 


terça-feira, 17 de janeiro de 2023

22º Almoço Anual do Salão Cultural Ataijense

 


Desde o ano de 2000, apenas com a forçada interrupção a que a pandemia nos obrigou, que a cada 3º domingo de Janeiro os ataíjenses se reúnem no seu Salão.

Mais uma vez no passado domingo assim foi e umas centenas de sedentos de convívio puderam passar um excelente dia nesta escola de convívio, amizade e trabalho de equipa que é o Salão Cultural Ataíjense.

Foi bom ver muitas famílias inteiras, as três gerações presentes. Foi bom estar acompanhado da minha família e rodeado de e poder conviver com amigos como só nestas ocasiões é possível. Foi bom ver a alargada equipa de voluntários, direcção e colaboradores, de todas as idades, desde jovens de vinte anos até menos jovens que já passaram os setenta, todos juntos, a trabalhar com alegria e amor à camisola.













Na verdade, esqueci-me de fotografar os pratos de peixe e de carne, os salgados, as saladas e a canja. Mas, temos de convir que, com uma sopa de pedra e uma tal panóplia de sobremesas, já não se ficava nada mal






A equipa:






Ainda, a equipa:

e, agora, já temos um novo objectivo para o Salão: arranjar uma plataforma elevatória para que o Paulo também possa subir ao palco, como merece.
Uma plataforma para que possam subir ao palco todos os que o merecerem.