quinta-feira, 23 de maio de 2019

Gente da Ataíja de Cima – José Sabino – o José Coelho

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José Sabino que foi por todos conhecido como José Coelho, nasceu na Ataíja de Cima em 29 de Janeiro de 1920 e faleceu em 13 de Outubro de 1991.

Era filho de Francisco Sabino que teve uma vida aventurosa, incluindo a imigração para a América (New Beresford, Massachusetts)  e morreu jovem, com 41 anos de idade e de Maria Coelho, tecedeira de mantas e tapetes de trapo.

Ficou órfão de pai com vinte e um meses de idade e veio a casar, em Dezembro de 1944 com Joaquina Rosalia de Sousa, conhecida por Joaquina Rosalia, tendo construído a casa que ainda existe no largo do Outeiro.

A falta de trabalho que então havia na Ataíja, a necessidade de fazer face ao sustento da família que começava a crescer rapidamente e a de pagar as dívidas resultantes da construção do lar familiar, obrigaram-no a seguir o caminho que era, então, o de quase todos os homens ataíjenses: a emigração sazonal, para trabalhos agrícolas nas quintas da região de Lisboa.

Acabou por se fixar, primeiro como vaqueiro e por fim como caseiro, numa quinta em Camarate onde, em 1953, juntou a família.

Tinha então quatro filhos, (entre eles o Américo de Sousa Sabino, já mais de uma vez, justamente, referido neste blog) e aí haviam de nascer mais outros quatro.

Manteve sempre uma estreita ligação à Ataíja e um forte empenho no progresso da aldeia, sendo de destacar a doação que fez do terreno para se construir a actual Escola Básica de 1.º Ciclo e Jardim de Infância, bem como a actividade que desenvolveu na comissão que, nos anos de 1975 e 1976, muito trabalhou para conseguir o alcatroamento da estrada municipal n.º 553 que liga a EN 8 em Aljubarrota à Ataíja de Cima e ao IC 2, passando pelo Cadoiço.

Faleceu em 13 de Outubro de 1991, depois de ter regressado à aldeia, quando a quinta de Camarate, nos arredores de Lisboa, onde vivera e criara os filhos, começou a ceder à pressão imobiliária que, entretanto, a submergiu.

Nessa quinta existe hoje uma rua com o seu nome e, assim, o José Coelho é, tanto quanto sei, o único ataijense a ter uma rua, ou outro espaço público, com o seu nome.

Foi por deliberação da Câmara Municipalde Loures, tomada na reunião ordinária de 18 de Janeiro de 2012 que, acolhendo a proposta aprovada, em 29 de Abril de 2011, pela Assembleia de Freguesia de Camarate, foi dado o nomede José Sabino à Rua sita na Quinta da Marvila, em Camarate, com início na Rua dos Escuteiros e fim na Rua Quinta da Marvila.

Da proposta e como seu fundamento, consta uma breve biografia de José Sabino que de seguida transcrevemos:

          "José Sabino, mais conhecido por Zé Coelho, nasceu em Ataíja de Cima, Aljubarrota - Alcobaça.
          José Sabino fixou-se em Camarate por volta de 1950. Trabalhou na "Quinta dos Militões" e explorou a Quinta das Areias, Quinta da Arieira, Quinta dos Polvorais, Quinta do Salter e Terras do Grilo.
          Em 1953 tornou-de rendeiro da Quinta da Marvila, onde se manteve até ao fim dos seus dias.
          Em 1983 adquiriu para propriedade sua parte da Quinta que fora rendeiro muitos anos.
          Nos terrenos sob sua administração, sempre houve lugar ao acolhimento de pessoas particularmente carenciadas e para famílias pobres, a quem cedia pequenas parcelas de terreno, para cultivo próprio, proporcionando meios de subsistência.
          José Sabino foi o impulsionador do Jardim de Infância Nossa Senhora dos Anjos em Camarate, e de igual modo esteve envolvido na reconstrução/remodelação das instalações do Grupo Desportivo Águias de Camarate.
          A actual sede das actividades do Corpo Nacional de Escutas fora um edifício que foi sua pertença.
          Nasceu em 20/1/1920, faleceu em 13/10/1991."


A colecção das cartas que trocou com sua mulher, entre 1948 e 1952, nos anos em que – forçados pelas contingências económicas - viveram separados, ela na Ataíja cuidando das poucas terras familiares e dos filhos e ele em Camarate, constitue um importante acervo documental, um raro e poderoso testemunho, sobre as condições de vida na nossa região em meados do Séc. XX.

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4 comentários:

  1. Quanto agradecida estou e extraordinário e o autor deste texto que relata a vida de uma pessoa que nos deixou 'a 29 anos. Muito mais haveria para contar dele e de muitas pessoas da nossa terra que foram grandes almas de trabalho físico e moral deixando o seu legado para as gerações futuras. Os meus sinceros agradecimentos pelo teu talento e dedicação à tão nobre causa. Beijinhos grandes Jose. Amalia Sabino Pais

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  2. Olá Amália. Eu gostava era de ter uma foto melhor para ilustrar o texto.

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  3. Eu puto pequenino, já houvia falar no Zé coelho quinta adjecente a casa dos meus Pais Bairro Santiago, nunca pensei que iria haver laços familiares com a família Sabino, assim de facto aconteceu fica o registo de ter conhecido esse Senhor que almegou ter uma família algo numerosa para época mas... transmitiu uma educação aos seus filhos que ainda hoje se vê o seu valor e seus descendentes, bem haja onde esteja .

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  4. Fiquei muito contente por poder ler um resumo da história do avô que eu nunca conheci. Obrigado pelo post! Tenho muita curiosidade em ler as cartas trocadas entre o José e a Joaquina. Onde posso encontrá-las? Estão disponíveis ao público? Um abraço.

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